terça-feira, 8 de maio de 2012

Educação para a diversidade nas empresas



“Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe”.

João Guimarães Rosa (Grande sertão veredas)

É com esta citação que quero despertar o tema de hoje. E o uso da palavra despertar é proposital porque a intenção do texto é exatamente essa. O que caracteriza o nosso tempo? Uma dinâmica insana de ponteiros disparados, muitas responsabilidades simultâneas, muita gente. E é aí que quero chegar. Na gente que faz tudo isso girar. Em qualquer lugar que se olhe, há tanta gente e tanta particularidade. É a tão falada diversidade. E como as empresas são organismos vivos e espelho social, são obviamente compostas por indivíduos únicos, movidos por um objetivo comum.

Estou falando não apenas das diferenças de raça, gênero, crença, orientação sexual ou mobilidade. Há muito mais que se entender e perceber nesse trato com pessoas. E é urgente que se compreenda que a educação é essencial nessa mudança dos tempos. Ela pode ampliar a visão dos grupos sobre cada indivíduo e oferecer a esse indivíduo o acolhimento que lhe é de direito. Charles Taylor (1994) aponta que um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.

E tudo começa na escola. É na educação básica que o trabalho de quebra das desigualdades e das percepções equivocadas precisa ser iniciado e construído. A idéia da escola inclusiva não pode estar restrita a grupos de alunos “diferentes”. A ação pedagógica deve contemplar a visão igualitária dos indivíduos e responder aos desafios que são atribuídos no cumprimento da função formativa, reconhecendo e valorizando a diversidade como um elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem.

Como sabemos que essa é uma tendência atual, várias gerações não foram abordadas ou sensibilizadas satisfatoriamente para essa necessidade. Aqui entra a importante contribuição das empresas, com o auxílio da educação. Retomando o início do texto, as empresas como espelho social estão expostas à diversidade e dela se apropriam para seus propósitos. E, assim sendo, sua contrapartida pode e deve ser feita de várias maneiras.

Edgar Morin diz que é necessário promover o remembramento dos conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a condição humana no mundo, dos conhecimentos derivados das ciências humanas para colocar em evidência a multidimensionalidade e a complexidade humanas, bem como integrar, na educação, a contribuição inestimável das humanidades. Não poderia dizê-lo melhor. A experiência social proporcionada pelo convívio na empresa oferece, aos profissionais que fazem a educação naquele ambiente, uma multiplicidade de sinais, informações e evidências que compõem uma rica fonte, que precisa ser visitada, revisitada e revirada diariamente.


Sabemos que beira à utopia a questão da igualdade de direitos e acesso às oportunidades, mas quanto melhor for o uso dos recursos educacionais focados na valorização das diferenças, mais igualitária será a prática. E alguns pontos precisam ser lembrados nesse processo:

- Toda a cadeia de valor da empresa e seus públicos de interesse precisam estar envolvidos nas estratégias educacionais;

- O comprometimento deve ser de toda a cadeia hierárquica. Não basta solicitar envolvimento da diretoria da empresa, por exemplo. É preciso contemplar esse público também nas ações, considerando suas características e diferenças;

- As pessoas que planejam, executam ou conduzem os processos educacionais nas empresas precisam estar integrados ao grupo e ter uma visão muito crítica e cuidadosa para a forma que vão dar a cada programa. O respeito à diversidade começa na abordagem das pessoas;

- O investimento em ações educacionais precisa ser planejado muito além da ação em si. É preciso entender que há outras necessidades até de caráter estrutural que precisam ser atendidas. Se a empresa deseja aplicar um treinamento em um lugar determinado, ela precisa garantir que todos terão acesso. Recursos para facilitar a mobilidade de portadores de deficiência física ou acompanhamento com profissional especializado em linguagem de sinais para portadores de surdez, por exemplo, são fundamentais;

- A criação de espaços e o incentivo à expressão de diferentes opiniões enriquece o processo educacional, proporciona a troca de conhecimentos e torna a dinâmica do trabalho mais rica.

E aproveitando o que disse o fantástico Guimarães Rosa, tudo se torna mais fácil quando se tem amor. Amor pelo que se faz, respeito e amor pelo outro. Uma empresa pode investir milhões em educação e treinamento e não ter o resultado esperado, se as pessoas não são valorizadas como indivíduos únicos, que são, e iguais, ao mesmo tempo, como partícipes e colaboradores da vida daquela empresa.

E como disse o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, “a educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”.

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Até o próximo!

Ubirajara Neiva
Gestor de Educação Corporativa e Relacionamento

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