segunda-feira, 28 de maio de 2012

Continuada ou permanente?

27 de maio de 2012  (nelson.moschetti@bdobrazil.com.br



Nos idos de 1970, meu avô me falava sobre uma nova teoria da educação, chamada de educação permanente. Dizia ele que a escola, em todos os seus níveis, era insuficiente para nos formar como cidadãos.
John Dewey, educador e filósofo norte-americano, considerava ser de vital importância que a educação não se restringisse ao ensino do conhecimento em sala de aula, mas que o saber e a habilidade dos estudantes pudessem ser integrados a sua vida como cidadão, pessoa e ser humano.
Ou seja, a educação deve estar permanentemente centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno. O apoio e a implementação de programas e políticas públicas são ferramentas que consolidam este processo.
Além da educação formal, outros espaços sociais são igualmente importantes e não podem ser substituídos como vetores educacionais. Família, amigos, grupos, vida profissional, participação política e artes em geral compõem o nosso cotidiano como fontes potenciais de aprendizagem. Não significa negar a importância do papel da escola - do primeiro grau à universidade. Significa, sim, que esse conjunto é um processo rico para quem sabe aproveitá-lo no seu crescimento pessoal e profissional.
Meu avô já se foi. E o tema da moda agora é a educação continuada. A tendência atual é focar nossa educação, mesmo depois de formados, em MBAs, mestrados, doutorados, treinamentos promovidos pelas empresas etc. Ou seja, qualificação constante. Mas isso é importante? MUITO IMPORTANTE.
John Dewey entende a educação continuada como fator permanente de desenvolvimento humano, que acontece quando o indivíduo transmite, de geração a geração, a experiência de sua formação acadêmica, incluindo também o processo de comunicação entre os grupos sociais. O indivíduo passa, portanto, os valores e experiências vivenciadas socialmente, por meio do diálogo dos mais velhos para os mais novos, além da sua maneira de pensar, de sentir e de agir humanamente. O conhecimento não fica recluso nas salas de aula.
Na teoria, é fácil dizer que podemos aprender tudo e em todos os lugares, que a vida nos ensina muito. E é verdade. Na prática, muitas vezes ficamos prisioneiros de belos discursos e longe de tornar nossas atitudes coerentes com ideias ou ideais que professamos.
Como meu avô me ensinou, prefiro a denominação educação permanente, pois me dá mais força para encarar as oportunidades de aprendizagem existentes na sociedade como um todo.
Para tanto, basta estar atento, senão vejamos um pequeno acontecimento do cotidiano. Os fatos são verdadeiros. Os personagens, fictícios. Pedro acordou cedo, estava alegre. O sol brilhava no horizonte. Era inverno com cenário de primavera. Iria levar sua filha e genro ao aeroporto. Saiu de casa brincando, com espírito genuinamente infantil. Parou no posto para reabastecer. Não conseguiu retornar imediatamente à avenida, pois uma jovem motorista não lhe deu passagem. Pensou: vou brincar com ela. Entrou logo atrás do carro da moça, buzinando estridentemente. Isso durou até o próximo semáforo, quando Pedro fez a ultrapassagem e foi embora. Nesse momento seu genro falou:
- Você é mais vingativo do que eu!
Pedro não fez por vingança, foi infantilidade, brincadeira. Mas a frase do genro continuou a martelar em sua cabeça. Quantos conflitos de trânsito surgem por esse tipo de comportamento: pouco importa se é vingança ou brincadeira. Viver socialmente implica em conviver. Há a necessidade de normas sociais regulando a vida entre as pessoas, indicando limites e tornando a vida mais harmoniosa.
No entanto, as normas sociais são insuficientes se não forem acompanhadas de atitudes que facilitem o convívio, gerando respeito recíproco entre os cidadãos. Foi com essa reflexão que Pedro decidiu genuinamente nunca mais ter atitudes infantis ou vingativas no trânsito. Ele estava atento às oportunidades de aprendizagem que o cotidiano oferece, fazendo lembrar novamente de que podemos ser eternos aprendizes e, com uma ponta de saudade, resgatando a abordagem de educação permanente que meu avô me transmitiu.
Enfim, Pedro compreendeu que a sua decisão, mesmo tendo um pequeno resultado, apresentava um grande potencial de mudança de comportamento para a vida em sociedade. É uma mudança de conceito, com novas maneiras de agir para as pessoas conviverem melhor. Afinal, ATITUDE MUDA TUDO.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,continuada-ou-permanente--,878562,0.htm

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