domingo, 21 de novembro de 2010

Trechos do livro O Ciclo da Auto-Sabotagem

Livro de Stanley Rosner e Patricia Hermes

Por que repetimos atitudes que destroem os nossos relacionamentos e nos fazem sofrer


"Há uma vitória e uma derrota - a maior e a melhor das vitórias, a mais baixa e a pior das derrotas -, que cada homem conquista ou sofre não pelas mãos dos outros, mas pelas próprias mãos." ~ Platão, Protágoras

"Recebi em meu consultório um homem para quem tudo parecia correr bem. Louis era um quarentão, um homem de negócios que aparentava ser bem casado, o pai de um grande garoto, como chamava o filho de 10 anos, bem-sucedido na vida pessoal e profissional. Mas me procurou porque estava inquieto, pensando no sentido da vida. Estava tendo um caso com uma mulher que, admitiu, não amava. Mas, mesmo sem amá-la, estava prestes a deixar sua família. Ele não entendia o próprio comportamento, mas sabia que alto estava errado. Além disso, havia jurado que nunca faria com sua família o que o pai fizera com ele. Ele revelou que seu pai havia abandonado a família quando ele tinha a mesma idade do filho - 10 anos. E seu avô paterno também largou a família quando o filho tinha 10 anos. Ele estava prestes a se tornar o terceiro pai na família a abandonar a mulher e os filhos.

Encarar o ciclo de repetição é o primeiro passo para ter algum controle sobre o que a pessoa está provocando inconscientemente.

Pode parecer implausível acreditar que um indivíduo continue agindo exatamente da maneira que o faz sofrer. Concordo que seja um contra-senso. No entanto, é plausível e possível. E ocorre constantemente.

O que é importante sinalizar aqui é que essas vidas são infernizadas e destruídas pela compulsão à repetição. Por compulsão, estou me referindo aqui a um tipo de repetição menos instintiva, uma necessidade inconsciente de repetir muitas vezes um comportamento, um impulso de levar adiante um ato, não importando as consequências, mesmo que destrua a vida e a felicidade de alguém.

Existe um momento em que a pessoa consegue reconhecer essas repetições? É possível se dar conta disso e o ciclo ser rompido realmente? Acredito que as respostas a essas questões sejam "sim". Embora não seja uma tarefa fácil. Indivíduos que passaram a vida construindo uma concepção sobre si e sobre o mundo ao redor de uma determinada percepção equivocada podem ter medo de contestar aquela visão, e isto é compreensível.

É um medo real e imenso, porque envolve a única coisa que precisamos e pela qual ansiamos - o amor.

(...)
A maioria das crianças pequenas acredita que o mundo gira ao seu redor. Com o desenvolvimento normal, esse sentimento gradativamente se dissipa. Entretanto, quando certos pais colocam os filhos no meio de suas próprias vidas e também de seus próprios conflitos, esse processo normal pode ser interrompido. A consequência é que muitas dessas crianças desenvolvem um forte senso de responsabilidade, culpa e de recriminação a si mesmas. Elas recebem de herança uma consciência severa e punitiva, dúvidas sobre si mesmas e falta de confiança. Se algo vai mal com seus pais ou com sua família, acreditam que, além de ser culpa delas, é também sua responsabilidade corrigir os erros e consertar o estrago.

Sepultar sentimentos traumáticos, experiências e memórias de sofrimento acontece a muitas pessoas. Entretanto, enterrar essas experiências não significa que elas estejam mortas. Pelo contrário, elas se incorporam, tornam-se parte indelével da imagem que as pessoas têm de si. Consequentemente, a pessoa não sabe por que age de uma determinada forma, não consegue explicar. Surge uma lacuna entre o que se sente e a base de tais sensações.

A criança que vive no adulto, a criança que sepultou seu passado traumático, revive esse fato várias vezes, tentando inconscientemente dominar aqueles eventos incontroláveis. A finalidade, portanto, é facilitar a mudança, fazer com que chegue à consciência, ajudar a criança indefesa a se tornar o adulto livre, com o controle da própria vida. Com consciência e memória, esses eventos podem ser encarados de modo diferente.

Às vezes, é preciso chegar ao sofrimento para que os problemas sejam resolvidos."


http://valeschka.blogspot.com/2009/08/o-ciclo-da-auto-sabotagem.html

"A escolha do parceiro do casamento é, muitas vezes, a representação da relação mal resolvida com um dos pais, aquele que não conseguiu atender às necessidades do filho. A escolha inconsciente do parceiro representa uma tentativa de "mudar aquele pai/mãe", de conseguir o amor e o carinho que faltou. O resultado se apresenta na forma de queixas do tipo: "não foi isso que eu disse", "ele não me defende". Isto, por sua vez, gera lutas pelo poder, batalhas de vontades, brigas sobre quem está certo e quem está errado. Geralmente, o que vem a seguir é aquela sensação silenciosa, mas bastante incômoda, de estar pisando em ovos, para não desequilibrar a balança.

Às vezes, há uma vaga consciência do que está acontecendo, pensamentos confusos de que o cônjuge está se comportando como o pai/mãe frustrador, mas tais pensamentos são geralmente repelidos. Porque fracassamos no reconhecimento da dinâmica da interação com o cônjuge e porque não queremos nos lembrar inteiramente do impacto prejudicial que aquele pai/mãe teve sobre nós, tendemos a repetir muitas vezes a relação. Temos a expectativa de que, da próxima vez, seremos bem-sucedidos naquilo que queremos. Vivemos com a esperança de que encontraremos, no casamento, a satisfação que não encontramos até agora.

Um outro problema é como os indivíduos reagem ao trauma. A interrupção na comunicação, apresentada de modo tão comum como a causa dos problemas nos relacionamentos, é, na realidade, parte da estrutura de defesa em resposta ao trauma. Não é apenas a interrupção na comunicação verbal, mas na comunicação emocional também. Há um entorpecimento dos sentimentos e da sensibilidade. "Se você não estende a mão para mim, por que eu devo estender a minha para você?" O resultado é que a relação baseia-se em tentativas, na qual cada indivíduo sente necessidade de pisar leve, para evitar qualquer situação incômoda ou real. Com medo de represália, medo da própria raiva, a tendência é isolar-se, calar-se tanto verbalmente quanto emocionalmente.
"Ela não fala comigo" é uma queixa comumente ouvida. Esse estado de alienação é baseado no medo de que o cônjuge se irrite se o outro expuser seus sentimentos. Esse medo também é expresso em termos de fragilidade: "não posso dizer nada, porque ela vai desmoronar, ela é tão sensível". Então o distanciamento continua e fica cada vez maior.
Não expressar sentimentos e reações em palavras, por sua vez, leva a pessoa a não expressão sentimentos em comportamentos e em reações emocionais. "Por que eu deveria dizer como me sinto? Ele não vai me ouvir. Não vai fazer a menor diferença".

Se um dos parceiros arriscar seus medos e reconhecer que a frieza é em razão da evitação da agressão ou da possibilidade de se magoar, então a barreira do silêncio pode começar a ser rompida. É necessário reconhecer que o medo da raiva e o medo da fragilidade são aprendizados trazidos de relacionamentos traumáticos anteriores. "Ela não é minha mãe, que não me defendia quando eu precisava". "Ele não é meu pai, que me fuzilava com os olhos se eu expressasse minha raiva".
Ao alcançar esse reconhecimento, é possível mudar relacionamentos atuais.

A compulsão à repetição é uma forma de traduzir em ação um trauma por meio de um comportamento destrutivo, embora quase sempre o indivíduo não tenha noção de que é exatamente isso que está fazendo.

Há uma grande diferença entre estar em situações difíceis que ocorrem sem que a pessoa tenha consciência do que está acontecendo e o reconhecimento de que há alternativas e que é possível efetivar mudanças em comportamentos de auto-sabotagem. A diferença, a diferença vital, é o reconhecimento. Freud escreveu: "Na verdade, eu sempre soube disso; só que isso não me passava pela cabeça".


http://valeschka.blogspot.com/2009/08/o-ciclo-da-auto-sabotagem-2a-parte.html

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