domingo, 14 de novembro de 2010

Processo de seleção critica a sociedade

Processo de seleção critica a sociedade
Fonte: Jornal do Commercio – Brasil - Seu Dinheiro / Gerência - 31/08/2006[ <· Voltar ]      Imprimir ]
Gabriela Godoi

Parecia ser a última etapa de um processo de seleção para um cargo de gerência, mas o método utilizado para avaliar os candidatos fugiu do convencional. Tema principal do filme O que você faria?, co-produção da Argentina, França e Espanha, do diretor argentino Marcelo Piñeyro, em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, os métodos de processo seletivo são retratados como uma crítica à sociedade contemporânea.

Convidadas pela reportagem do Jornal do Commercio para assistir ao filme, a vice-presidente de Recursos Humanos (RH) para a América Latina da Shell, Selma Paschini e a consultora Jacqueline Resch, da Resch RH avaliaram como o processo seletivo foi retratado.

As especialistas concordam que o filme é uma metáfora sobre a sociedade contemporânea, pois os processos seletivos nunca podem ser conduzidos como foram no filme. "Acredito que fale mais sobre a crise de ética da sociedade em geral do que sobre os processos seletivos e gestão de pessoas. As personagens prescindem da ética", complementa Jacqueline Resch.

Os candidatos estranham inicialmente a forma como a dinâmica será conduzida. A única funcionária presente é a secretária Montse (Natalia Verbeke), que aos poucos vai revelando as informações sobre o processo de seleção. Sete candidatos ao novo posto são trancafiados na sala e aguardam a presença de algum avaliador, que não aparece. Através do método Gronhölm, como explicam aos futuros executivos, todos serão avaliados e somente um efetivado.

"O filme mostra que a empresa também é anti-ética, pois usa câmeras, pressão excessiva, inventa um processo falso, mente. Uma empresa ética deixaria claro desde o início como o processo se desenvolve", explica Selma, da Shell.

As provas utilizadas no filme, como escolha de um líder, destaque de competências, são muito utilizadas em dinâmicas de grupo, afirmam Selma e Jacqueline. O diretor Piñeyro e o roteirista Mateo Gil visitaram alguns departamentos de RH em Buenos Aires e Madri, além de pesquisar literatura a respeito do assunto. Os personagens apresentam também estereótipos muito encontrados em dinâmicas de grupo.

"Vários estereótipos são mostrados no filme, como a candidata que usa o jogo da sedução, o candidato que joga para a torcida, respondendo o que a empresa quer ouvir", afirma Jacqueline.

Como contraponto a esta atípica situação, manifestantes anti-globalização tomam as ruas de Madri, pois o processo acontece no mesmo dia de uma das reuniões do G-8 (grupo dos sete países mais desenvolvimento, mais a Rússia). Mais do que coincidência, o evento levanta questões sobre lealdade à empresa e aos seus princípios morais.

Em uma das provas de seleção, o grupo é incentivado a escolher um líder. Ex-executivo de uma empresa de pesticidas, Julio (Carmelo Gómez) é eleito por consenso. Comunicada a decisão, o grupo é surpreendido com um recorte de jornal mostrando como o novo líder foi demitido por ter denunciado o despejo de dejetos em um rio próximo à empresa, resultando na demissão de 200 funcionários e no fechamento da planta.

A lealdade à corporação é também questionada quando outro candidato, Ricardo (Pablo Echarri), confessa a Enrique (Ernesto Alterio) que omitiu de seu currículo seu passado como líder sindical.

"A questão que o filme aborda, sobre lealdade a empresa, remete à relação entre capital e trabalho. O primeiro eliminado decidiu assumir e denunciar a empresa. Alguns princípios da vida devem ser sustentados. Enrique, no caso, preferia agir como um fantoche, ser o que a empresa deseja. As pessoas têm questões pessoais, valores, e o mundo exige muitas horas de trabalho, que acaba levando à acomodação. Para ser criativo, precisa manter o equilíbrio. As empresas não desejam mais alguém sem visão crítica", avalia Jacqueline.

Selma, da Shell, lembra, no entanto, que muitas empresas posam de vanguardistas, mas não praticam o que pregam. "Não adianta dizer que aceita o diferente, que emprega muitas mulheres, negros, portadores de necessidades especiais e outras minorias e depois colocar estas pessoas em cargos de menores salários. Na Shell, buscamos dar oportunidades iguais a todos, sem discriminação de raça, sexo, religião", conta.

Para evitar cair em ciladas como a apresentada no filme, as especialistas recomendam que o candidato primeiro busque mais informações sobre a empresa. Selma recomenda que se vá além de questões básicas como pacote de benefícios, salários, e conhecer bem a cultura da empresa. "Antes de embarcar em uma canoa furada, é melhor conhecer a cultura da empresa. Trabalhar em um ambiente ruim, não dá", explica Selma.

Processos seletivos costumam não ser muito agradáveis aos candidatos, não só pelo momento de tensão que representam. O medo da rejeição, afirmam as gestoras, acontece por que muitas empresas não explicam o por quê da não contratação.

"As pessoas que chegam ao final do processo são equivalentes, dificultando a escolha do selecionador, que acaba optando por um detalhe. Em alguns casos, procuramos dar um retorno sobre a decisão. Por exemplo, se o candidato não é aprovado por problemas em idiomas, disponibilizamos os testes, apontando as soluções possíveis. Mas se for uma questão ligada a traço comportamental, às vezes fica difícil orientar, pois pode ser uma questão profunda para o candidato", conta Jacqueline.

SaibaMais Prêmios na Espanha
Produtor de um dos maiores sucessos do cinema argentino, "A História Oficial", de Luis Puenzo, e diretor dos celebrados "Plata Quemada" e "Kamchatka", Marcelo Piñeyro estréia no cinema espanhol a produção é argentina e italiana, mas os recursos predominantes do filme O que você faria? (El método, no original) são da Espanha. O roteiro foi feito em parceria com Mateo Gil, de Mar adentro. O filme levou dois Goya, o principal prêmio do cinema espanhol, nas categorias roteiro adaptado e ator coadjuvante (Carmelo Gómez).

http://cartaderh.com.br/website/text.asp?txtCode=19330&txtDate=20060901000000

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