quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Inovação - Mitos, medos e fatos

Inovação é um desses temas que as pessoas, instituições em geral, empresas e governos adoram falar e propagandear, mas poucos realmente entendem o conceito e estão dispostos a implementar inovações, aceitando todas as suas implicações.



Alguns exemplos ilustram bem os discursos vazios que a história encarregou-se de desmascarar:



"Não há dúvida, entretanto, de que Ruben Berta preparou a companhia para enfrentar os riscos e garantir sua sobrevivência. E o fez de forma original e surpreendente: transferindo o controle acionário da empresa para uma fundação constituída por seus próprios funcionários." (De homens e ideais. São Paulo: Prêmio, 1966, p.33).



"Estamos a nos preparar para o Boeing 747 pelo mesmo espaço de tempo em que outras pessoas tratam de preparar o 747. Enquanto isso sugerimos inovações destinadas não somente a solucionar problemas latentes antes mesmo que surgissem como, também, para oferecer mais conforto pessoal aos nossos passageiros." (folheto da Pan Am, 1970).



O primeiro texto refere-se à Varig e à fundação criada para garantir seu desenvolvimento, mas uma série de más administrações levaram a empresa a ser absorvida pela GOL, em 2007 e finalmente à sua falência, em 2010. O segundo texto refere-se à empresa aérea Pan Am, estrela da aviação comercial norte-americana desde a década de 1930 até seu colapso em 1991.



A Pan Am foi uma força altamente inovadora durante as décadas de 1960 e 1970, ajudou a Boeing a desenvolver o Jumbo 747, inovou criando uma rede de hotéis, sistemas de atendimento sofisticados para clientes e uma malha aérea que cobria todo o planeta. Porém a empresa não resistiu a uma sequência de más gestões e perda do foco principal. No caso da Varig, a empresa cresceu artificialmente graças à proteção da ditadura militar brasileira (1964-1985) que provocou a falência e fechamento na Pan Air do Brasil e passou suas rotas para a Varig. A empresa teve o monopólio das linhas internacionais por décadas, inovou criando a Fundação Ruben Berta, mas não resistiu ao jogo dúbio de trocas de favores políticos, má gestão interna e perda de competitividade nacional e internacional.



Não basta inovar, é preciso planejar, administrar e manter constantemente altos padrões de qualidade para que as inovações encontrem um ambiente propício e tenham um desenvolvimento sustentado na instituição, evitando tornar-se um modismo ou uma peça frágil de um pseudo-marketing.



O que é inovação?

Há muitas definições e práticas para inovação. Para Jeffrey Baungartner, inovação é a implementação de ideias criativas para agregar valor à empresa, geralmente através do aumento dos lucros, pela redução dos custos operacionais ou por ambos.



Para Philip Kotler, inovação é, ao mesmo tempo, processo e traço cultural das organizações que, em geral, implementam e difundem novas ideias e ofertas capazes de impulsionar o crescimento duradouro. "Sem inovação contínua, as organizações e suas estratégias atrofiarão, assim como definharão suas reputações." (Vencer no Caos. P. Kotler e J. Caslione. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p.177)



Algumas empresas nasceram diretamente de um processo inovador, usaram uma tecnologia disruptiva, ou seja, que não obedece a padrões de evolução tecnológica mas, saltam etapas configurando produtos ou serviços inéditos, que simplesmente exterminam antigos concorrentes.





A Google, por exemplo, nasceu de uma inovação disruptiva: o algoritmo que permite que se encontre de forma extremamente rápida uma determinada referência entre as bilhões de páginas da Internet. "A Google exige que os funcionários inovem, é parte do trabalho. Assim que os trabalhadores são valorizados. É assim quem a Google cresce. Cientistas começam com um problema, depois tentam encontrar uma solução. Os fundadores da Google abordam a inovação nessa ordem: primeiro encontram o problema e, depois, criam a solução. A lição da Google é clara, faça com que a inovação seja seu negócio." (O que a google faria? Jeff Jarvis. Barueri, SP: Manole, 2010, p. 108-112)



O exemplo dos museus

Qual a missão de um museu? Bem, têm sido a de guardião da cultura, depósitos de obras de valor. Mas se encaramos os museus como promotores de cultura, responsáveis por atrair, motivar e assim aumentar o número de visitantes, a proposta museológica passa a ser outra, assim como as medidas de desempenho. Nos Estados Unidos, onde estão alguns dos mais importantes complexos museológicos do mundo como a Smithsoniam Institution, com 16 museus e um zoológico, em Washington D.C., as inovações são práticas constantes para ampliar e manter os acervos, traçar políticas educacionais, atrair visitantes e captar recursos das mais variadas fontes para voltar a ampliar e manter os acervos. É um círculo virtuoso também observado nos museus de New York (Guggenheim, Museu Americano de História Natural, Modern Museum of Art - MoMA, Metropolitam Museum of Art). O museu de História Natural protagonizou dois filmes de ação, com muita computação gráfica, que lhe valeram aumento de 20% nos visitantes. Os saguões de alguns museus são alugados, à noite, para desfiles de moda, jantares corporativos, exposições ou eventos de alto nível, o que ajuda a atrair recursos financeiros, respeitabilidade do público e ações efetivas de marketing. Nesse ponto a museologia brasileira - com algumas exceções - ainda tem muito a aprender e a romper com seus medos e preconceitos.



Veja o site da Smithsonian: www.si.edu/museums para perceber o que é uma ação eficaz que une pesquisa, educação, turismo e responsabilidade e compromisso para com as comunidades locais e globais.



Outro exemplo edificante é o museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, em pleno país Basco. O museu Gugghenheim teve sua origem em New York, em um edifício espetacular desenhado pelo arquiteto Frank Lloys Wright, na década de 1950. Há outras sedes do museu do Bilbao, Veneza, Berlim e Abu Dhabi. Havia planos para a instalação de uma sede no Rio de Janeiro, mas a inteligência local desprezou a oferta considerando-a um tipo de intervenção imperialista em nossa cultura. Bem, não é exatamente o que os árabes e europeus pensaram ao aceitar a aproveitar a oferta.



Veja o site: www.guggenheim.org



No caso de Bilbao, o próprio edifício é uma inovação arquitetônica fabulosa:



Autor: *Luiz Gonzaga Godoi Trigo é escritor, pesquisador e professor associado à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.'

Fonte: Jornal Serras Verdes - 15/11/2010

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