segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O valor das competências comportamentais

O fenômeno da globalização trouxe mudanças significativas tanto para as pessoas quanto para as corporações. No meio organizacional, por exemplo, hoje se observa investimentos destinados não somente à aquisição de novas tecnologias, como também é visível a preocupação com ações voltadas ao desenvolvimento do capital humano. Nesse sentido, é crescente a realização de treinamentos técnicos e comportamentais. Mas, por que as empresas também passaram a voltar suas atenções para as competências diretamente relacionadas ao comportamento dos profissionais? A justificativa surge na necessidade de encontrar um diferencial significativo para o negócio. E hoje, essa busca culmina nas pessoas. Afinal, sem uma boa performance comportamental é muito mais difícil fazer com que os processos corporativos fluam adequadamente.
Tomando por base o valor dos profissionais frente à forte competitividade apresentada pelo mercado, a Batavo instituiu em alguns treinamentos ações focadas no desenvolvimento comportamental dos seus colaboradores. De acordo com Alzinéia Pires, responsável pela área de T&D da organização, há um ano a área de Treinamento e Desenvolvimento mapeou e realizou o levantamento de necessidades junto às áreas da empresa. A partir deste trabalho foram identificados quais eram os “gaps” das equipes que deveriam ser trabalhados e assim foi possível alinhar os programas aos objetivos da organização, focando as estratégias do negócio.
Com origem em Carambeí, no Estado do Paraná, em 1911, a Batavo Indústria de Alimentos foi fundada por três famílias holandesas que pretendiam produzir apenas leite e queijo para o mercado local. O empreendimento evoluiu até que a organização tornou-se uma das principais produtoras de alimentos do Brasil. São mais de 100 produtos, entre achocolatados, leites, iogurtes e sobremesas, comercializados com a marca Batavo, nome com o qual os fundadores batizaram a primeira cooperativa. Atualmente, a organização emprega mais de 1.600 funcionários e conta com duas unidades industriais, sendo uma em Carambeí, no Paraná, e outra em Concórdia, Santa Catarina.
Na Batavo, as competências comportamentais passaram a ser trabalhadas, nacionalmente, a partir de abril de 2007, em dois treinamentos específicos: o Programa de Desenvolvimento Comercial que atende promotores/vendedores e o Programa de Desenvolvimento de Lideranças, destinado à média gerência. Dentre as competências desenvolvidas nesses programas, estão: visão sistêmica, orientação a resultados, conhecimento, liderança, comunicação, foco no cliente, trabalho em equipe e negociação. “Algumas, por sua vez, têm destacado-se com mais freqüência como, por exemplo, a liderança positiva e motivacional. Essa é seguida pelas capacidades de negociação em situações de pressão e bom relacionamento com os clientes internos e externos. Essas competências são privilegiadas porque mantêm a equipe coesa e segura e, portanto, trazem resultados quantitativos e qualitativos mais rapidamente”, explica Alzinéia Pires.
Na prática, os treinamentos tornam-se dinâmicos e são iniciados por um módulo específico que aborda as relações humanas, o que para treinamento focado em negócios é pouco comum. Nessa fase, são aplicadas algumas técnicas de sensibilização, onde o colaborador pode fazer uma reflexão sobre seus relacionamentos pessoais e profissionais, bem como uma análise em relação às escolhas feitas todos os dias e que nortearão suas vidas, tanto dentro da organização como fora do âmbito corporativo.
Vale salientar que o assunto “relações humanas” está alinhado a um dos valores da organização, ou seja, o Respeito Pessoal – que compreende promover o relacionamento profissional baseado na transparência, no respeito e no reconhecimento das diferenças de cada pessoa. Quando ministrados os treinamentos possibilitam ao colaborador expressar sentimentos pessoais e compartilhar sua história de vida. “Daí alinhamos os conhecimentos que estes profissionais trazem com aqueles que estaremos transmitindo”, afirma a responsável pela área de T&D da empresa.
Ao ser questionada sobre a receptividade dos funcionários aos trabalhos destinados à área comportamental, Alzinéia Pires comenta que essas ações têm conseguido uma altíssima aceitação. Esse resultado justifica-se porque quando o colaborador conhece as diretrizes de uma organização, os resultados são percebidos claramente. A educação corporativa, explica Alzinéia Pires, tem a finalidade de desenvolver pessoas para torná-las mais competitivas e eficazes em suas tarefas, e o objetivo da organização não é colocar os colaboradores dentro de uma sala e dizer o quê, como e quando eles devem agir, mas sim estimulá-los a pensar e a falar. Dessa maneira, as competências são desenvolvidas a fim de que os profissionais, através da consciência crítica, sejam capazes de analisar, construir e desenvolver um comportamento orientado a resultados. Para que a ação dê bons frutos, a educação corporativa deve estar bem alinhada à missão, à visão e aos valores da organização.
Em relação a possíveis resistências ao processo de mudança comportamental, ela comenta que a área de T&D não tem observado qualquer tipo de aversão a esse tipo de ação pontual, talvez pelo fato de estarem sendo trabalhadas equipes jovens, dinâmicas e motivadas. “Na empresa, os colaboradores recebem a educação como diferencial competitivo. Acredito que o grande segredo do trabalho é o apoio que recebemos da diretoria comercial da empresa. Todos os nossos treinamentos foram desenhados pelo departamento de RH em parceria com a alta direção e as gerências comerciais que têm uma forte visão sobre Gestão de Pessoas”, explica Alzinéia Pires, ao destacar os resultados dos treinamentos são realizados pela avaliação de desempenho com base em indicadores internos e externos.
Os indicadores internos observados pela organização na avaliação dos treinamentos são: melhoria no desempenho das pessoas; aumento do orgulho das pessoas em pertencer à empresa; crescimento da satisfação dos colaboradores e maior retenção de talentos. Já os externos considerados são: aumento na participação no mercado; progresso na qualidade dos serviços e atendimento; melhoria da imagem institucional; expansão dos negócios da empresa, entre outros.
O investimento do desenvolvimento das competências comportamentais tem gerado benefícios significativos para a organização e, no dia-a-dia, a Batavo identificou que desde que essa ação específica começou ocorreu mudanças positivas dentre as quais: aumento da eficácia organizacional; as equipes passaram a ter mais inspiração para superação de metas; a colaboração nos processos de lideranças das equipes ficou mais acentuada e tanto a motivação das pessoas como a concentração dos esforços em busca do objetivo corporativo ganharam mais destaque entre os colaboradores.
Segundo Alzinéia Pires, a obtenção dos resultados de negócios impulsiona as pessoas pelo sentido de utilidade e de excelência, preenchendo, inclusive, o sentimento de satisfação pessoal no trabalho. Esta satisfação, por sua vez, realimenta o processo motivacional e permite a situação de aprendizado para desafiar as condições atuais e partir para novos objetivos. Dessa forma, continua ela, a empresa obtém: melhor retorno sobre o capital investido (ROI); efetividade das ações em longo prazo; incorporação do sistema de gestão na cultura organizacional e forte vantagem competitiva pela condição de reação às adversidades.
Os investimentos – Se algumas empresas ainda questionam os resultados que o investimento na área comportamental pode gerar, na Batavo essas dúvidas não existem mais. Inclusive, o investimento no desenvolvimento comportamental dos profissionais não é considerado elevado desde que ele esteja alinhado às estratégias da empresa, objetivando resultados. “É claro que existem momentos nas organizações em que uma ação pontual de motivação de equipes ou de desenvolvimento de lideranças, por exemplo, não traz efeitos significativos no conjunto do comportamento da empresa, ou seja, tornam-se ações paliativas”, comenta a responsável pela área de T&D da Batavo. No entanto, este fato decorre do desequilíbrio entre o do processo de Gestão de Pessoas adotado pela organização e as necessidades apontadas pelas condições do momento que pode envolver concorrência, mudanças organizacionais, fusões/incorporações, necessidade de inovação, entre outros fatores.
Por essa razão, após a análise da adequação do modelo de gestão adotado pela empresa com as necessidades decorrentes da atividade, em muitos casos, é necessário desenvolver um processo de mudança do modelo para que ele se torne um aliado da organização na busca da excelência. O principal benefício é canalizar todo o potencial humano para que esse atue como fator potencializador dos resultados e de maximização da eficácia organizacional. Agindo desta forma a organização fará um alinhamento entre a ação que se quer das pessoas, com o resultado que deseja obter para a missão da empresa.
Alzinéia Pires menciona que diante do atual contexto sócio-econômico, de valorização do relacionamento humano e de responsabilidade social, a Batavo investe volumosos recursos em mecanismos de seleção, treinamento e aperfeiçoamento, a partir do entendimento da influência do pessoal nos processos produtivos, comerciais e, em especial, na qualidade. Acreditar no desenvolvimento de competências comportamentais nada mais é que uma estratégia para desenvolver, crescer e reter o seu patrimônio de conhecimentos que confere vantagens competitivas à organização, que tem por objetivo desencadear resultados.
“O investimento na área comportamental estimula nas pessoas o sentimento de pertencer ao contexto da empresa, encoraja o aprendizado e o crescimento contínuo dos profissionais, cria um clima que estimula os desafios e a criatividade, inspira entusiasmo, reconhece e compreende os sentimentos dos outros”, defende ela, ao acrescentar que é interessante que a área de RH, especificamente de T&D, esteja alinhada ao negócio da empresa, com uma visão orientada a resultados e sempre objetivando desenvolver competências que venham a contribuir para o crescimento sustentável das organizações. Por fim, Alzinéia Pires lembra ainda que o conhecimento humano é uma poderosa ferramenta de trabalho que o diferencia dos demais estabelecendo, inclusive, seu próprio diferencial competitivo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário