sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O que uma consultoria interna de RH pode oferecer?

Por Patrícia Bispo para o RH.com.br

Há determinados momentos em que a área de Recursos Humanos fica diante de certos dilemas: várias políticas de gestão já foram consolidadas na empresa e estão dentro das expectativas esperadas pela alta administração. E agora? O que mais pode ser feito para que a organização aproxime-se ainda mais do cliente interno e identifique se as ações que estão em andamento precisarão sofrer adaptação seja a curto, médio e longo prazos? A resposta para essa e outras dúvidas pode estar na figura do consultor interno de RH. Para falar sobre o assunto, o RH.COM.BR entrevistou o presidente da ABRH/PR e consultor, José Antonio Fares, que participou da implantação de projetos de consultoria interna de RH em grandes empresas, como na unidade da Bosch, em Curitiba/PR. Confira!
RH.COM.BR - O que é uma consultoria interna de RH?
José Antonio Fares - Podemos afirmar que é quando uma organização trabalha com um profissional de RH descentralizado e esse, por sua vez, atua de forma sistêmica, integrando ações estratégicas da organização com a base, facilitando o fluxo de informações. A consultoria atende às necessidades específicas dos clientes internos e o consultor interno de RH pode atuar por projetos ou por processos. No entanto, acredito que inicialmente a atuação por processos pode ser mais adequada.
RH - Quais os objetivos de uma consultoria interna de RH?
Fares - O objetivo principal é dar um atendimento diferenciado aos recursos humanos da organização, utilizando de forma mais adequada as informações recebidas. Com uma atuação descentralizada, a área de RH acaba antecipando as necessidades do cliente interno, pois tem a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia do cliente.
RH - Em que momento, uma empresa precisa de uma consultoria interna de RH?
Fares - Costumo ver a consultoria interna de Recursos Humanos como uma tendência. A necessidade da empresa surge no momento em que a área de RH percebe que pode contribuir de maneira mais eficaz, quando as políticas básicas já foram consolidadas.
RH - Como uma consultoria interna funciona na prática?
Fares - O consultor interno atua como um facilitador de processos, diagnosticando, buscando alternativas, esclarecendo dúvidas sobre aplicações de políticas. Ele deve ser um coaching para o cliente, assessorando-o no atingimento de suas metas, apoiando-o no gerenciamento de pessoas e fortalecendo o seu papel como gestor. Fisicamente, o consultor deve permanecer pelo menos 80% do seu tempo na área cliente e envolvido com os assuntos do cliente, somente dessa maneira ele poderá oferecer serviços realmente diferenciados. Os 20% restante deve ser para troca de informações com sua área matriz, esse é o cuidado para que o consultor interno não se desligue da área de RH.
RH -Quais os procedimentos que a área de RH deve adotar para implantar esse processo?
Fares -O primeiro passo é convencer a direção da empresa sobre a importância estratégica de se adotar esse serviço, junto ao cliente interno. Em seguida, é preciso descentralizar as atividades básicas do profissional de RH para o cliente interno, ficando claro que ele é o gestor de pessoas. Depois dessa etapa, é necessário convencer esses clientes sobre a mudança e isso pode ser feito através da definição de indicadores de RH e da velocidade das respostas. A consultoria de RH deve ser iniciada com a implantação de um projeto-piloto, para validar o processo. É importante também que sejam realizadas reuniões freqüentes entre o RH e o cliente onde a consultoria foi implantada, para que sejam definidas metas e os procedimentos a serem acompanhados. Além disso, é preciso desenvolver o profissional que irá assumir a função, dando a ele um perfil mais generalista.
RH - De que forma um profissional de RH deve ser preparado para atuar como consultor interno?
Fares - O fato de ter vivência nos subsistemas de RH facilita a sua atuação, mas não é o fundamental. O mais importante é estar preparado para ir além das situações óbvias, é ter uma boa percepção, é ter maturidade suficiente para manter isenção nas situações de impasses, é estar atento ao processo.
RH - Quais seriam as características desse consultor interno?
Fares - O "bom" consultor interno, antes de tudo, precisa conhecer seus próprios limites, pois só assim ele poderá saber qual a contribuição que poderá dar ao desenvolvimento das pessoas e das organizações. Isso está ligado às qualidades intrínsecas do ser humano, é tudo aquilo que não vemos, mas sentimos e percebemos em nossas relações, são os valores pessoais, as experiências vividas, é a história de cada um. E é essa história que desenvolve algumas habilidades fundamentais para o consultor, ou seja, saber ouvir, saber falar, saber ensinar, saber que ele não tem respostas prontas para o cliente e que é apenas um facilitador de descobertas. Outras características importantes e necessárias para o desenvolvimento do trabalho do consultor interno é a habilidade de fazer síntese de situações complexas, é saber lidar com situações críticas, é preparar bem os relatórios, é saber dar uma palestra e tantas outras que são percebidas pelos clientes e colegas.
RH - Como um consultor interno deve posicionar-se diante da empresa e dos colaboradores, para que ele tenha uma posição estratégica?
Fares - É bom lembrarmos que o consultor interno está na organização para prestar um serviço e o serviço não é um produto onde a qualidade é percebida externamente. A qualidade da consultoria é percebida na relação e é isso que faz a diferença, pois o interesse genuíno é sentido pelo cliente. O consultor interno tem que ter maturidade para tratar com imparcialidade qualquer tema, é assim que seu papel de facilitador vai consolidar-se e se tornar estratégico.
RH - Qualquer organização pode implantar uma consultoria interna de RH ou há alguma restrição?
Fares - Sim, desde que seu modelo considere a cultura da empresa. O processo de implantação deve ser suficientemente flexível para se adequar às necessidades específicas de cada organização. As empresas vivem momentos diferentes, são conduzidas por pessoas diferentes, estão inseridas em contextos diferentes e tudo isso deve ser muito bem avaliado na hora de escolher um modelo de gestão.
RH - Quais são as vantagens geradas uma consultoria interna de RH?
Fares - Como vantagens podemos considerar o ganho na agilidade de respostas, as constantes melhorias nos processos, a descentralização e a desburocratização. Não podemos esquecer de destacar ainda a mensuração mais constante de resultados e a formação generalista aos profissionais da área, o que melhora a empregabilidade.
RH - Depois de implantada, qual o período médio para que uma consultoria interna comece a colher os frutos?
Fares - As empresas não devem esperar milagres rápidos. O período para começar a colher os frutos é de, no mínimo, dois anos.
RH - Qual o mecanismo mais indicado para se avaliar os resultados de uma consultoria interna?
Fares - Acredito que o melhor mecanismo ainda é a avaliação formal do cliente que utilizou do serviço e os indicadores da própria gestão de Recursos Humanos da empresa.

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