sábado, 21 de janeiro de 2012

Existem muitas situações que fazem o coaching falhar


Por Vicky Bloch

Outro dia li um artigo publicado em uma revista americana que trazia casos de coaching malsucedidos. 

Empresas admitiam que alguns de seus executivos saíram do processo piores do que entraram. Mas, afinal, se o coaching é uma ferramenta tão poderosa de gestão de pessoas, como isso pode acontecer?

A resposta é simples. Nos últimos anos, com o crescimento da oferta da atividade no país, houve uma banalização do uso do coaching no mercado e, com isso, muitas vezes não se tem clareza sobre quais são as situações em que esse mecanismo deve ser mesmo aplicado.

Vale ressaltar que qualquer processo de desenvolvimento humano nas organizações, se malconduzido, certamente não atenderá as expectativas e gerará frustração tanto para o indivíduo como para a empresa. 

Com o coaching, não é diferente.

Muitos aventureiros que surfam a onda da moda vendem o coaching como a solução milagreira para todos os problemas de recursos humanos, mas não é bem assim. As áreas de gestão de pessoas precisam conhecer a fundo a essência desse processo para entender que há situações em que o coaching simplesmente não é a melhor alternativa.

Uma delas é quando a organização aplica o processo como se fosse uma ferramenta de avaliação de desempenho de um executivo. Já tive alguns embates com clientes que queriam aplicar a ferramenta com esse objetivo e, obviamente, os convenci de que existiam outros mecanismos mais adequados para este fim. 

O coaching visa um objetivo específico de melhoria de desempenho e, definitivamente, não deve ser entendido com a finalidade de avaliar profissionais.

Também acompanhei casos de profissionais que não acreditavam no processo e aceitaram participar apenas porque a companhia estava pagando. A questão fundamental é: se não houver comprometimento e dedicação por parte do indivíduo, os resultados esperados não serão atingidos. Cabe à organização, primeiramente, mostrar a esse colaborador os benefícios do coaching para o seu desenvolvimento e fazê-lo se sentir confortável e empenhado a entrar nesse barco.

O profissional precisa estar aberto para receber feedbacks, admitir suas vulnerabilidades, identificar pontos de melhoria e, o mais difícil, sair da sua zona de conforto. Se o coach que conduziu o processo foi competente, criou uma relação de confiança. Mesmo que o executivo não tenha sido um "aluno nota 10", o trabalho não será em vão e o coachee certamente vai tirar dali algumas lições. Mas garanto que ficará longe do resultado que poderia ser conseguido se ele tomasse as rédeas do processo e se prontificasse verdadeiramente a mudar.

Outra situação recorrente é quando as empresas contratam o coaching como "última salvação" para um profissional que já está prestes a ser demitido da companhia. É um erro grave colocar essa responsabilidade nas mãos do coach. O processo não faz mágica! Além disso, nessas situações, na maior parte das vezes a decisão já está tomada e o coaching será utilizado apenas para justificar a demissão do executivo.

Ressaltaria também os casos em que o problema está na empresa e não no indivíduo. Primeiramente se deve resolver o conflito organizacional, como definição de funções ou até mesmo revisão da sua missão e estratégia. Depois, se for adequado, aplicar o coaching.

O mesmo serve para quando uma companhia está prestes a promover grandes mudanças internas: sugiro fazer esse processo após as definições para que o direcionamento do coaching seja mais adequado.

O coaching executivo é, de fato, uma ferramenta fantástica de melhoria de desempenho de pessoas e organizações, um fenômeno capaz de conectar as necessidades individuais às necessidades profissionais e promover grandes mudanças. Mas, se ele não for conduzido de maneira correta, executivos e empresas podem sofrer danos irreparáveis.

É preciso haver uma séria reflexão tanto por parte da empresa contratante quanto do profissional que passará pelo processo para definir se esta é mesmo a melhor alternativa para atender àquela demanda específica e gerar valor.

Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados

Fonte: http://www.valor.com.br/carreira/1151368/existem-muitas-situacoes-que-fazem-o-coaching-falhar

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