domingo, 15 de abril de 2012

Falta-nos inexperiência

*Por Homero Reis - 14/11/2011 


Stuart Atkins e Allan Katcher (1970) escreveram um tratado sobre desenvolvimento humano intitulado LIFO – Life Orientation. Trata-se de um estudo sobre as competências humanas e de uma metodologia para avaliá-las e desenvolvê-las.

A tese básica deste trabalho pode ser sintetizada pela seguinte declaração: nossa força é, também, nossa maior fraqueza. Isto é: nossas competências, quando utilizadas em excesso, tornam-se a razão de nosso fracasso.

Acidentes de trânsito inusitados são provocados por exímeos motoristas; nadadores experientes morrem afogados, etc. Ou seja, pessoas habilidosas, por confiarem exageradamente em suas habilidades, acabam cometendo erros primários.

Isto ocorre em todos os domínios humanos. Por exemplo: pessoas com certezas absolutas não conseguem ver além de suas próprias certezas, nem imaginar outras possibilidades além daquelas que acredita. Deve haver espaço para a dúvida, para o desconhecido, para o inefável, para o inexplicável.

Se por um lado, conhecimentos, habilidades e atitudes são essenciais para a construção da competência, por outro, a crença exagerada nos “manuais” limita-nos a capacidade de inovar, criar, transgredir, mudar. A experiência é fundamental, mas não deve ser a base de tudo.

Diz o ditado que quem sabe muito não vê o óbvio. A questão está ligada ao modo como nosso modelo mental é, de tal forma, afetado pelo conhecimento prévio; como nossas percepções são “formatadas” por ele. Tal processo é inegável. No entanto, cabe-nos estar atentos para intentarmos outras possibilidades, a partir da capacidade de transgredir a norma esbabelecida. Veja bem, a ideia aqui não é fazer uma ode à insubordinação; antes nos permitir inovar. Se assim não fora, estaríamos até hoje nas cavernas.

Um dia alguém julgou que o sistema monárquico poderia não ser a melhor forma de se gerir uma nação. Muitos questionaram, outros afirmaram que sempre fora assim e que a lei não permitia mudanças. Com o tempo a ideia vingou e o sistema foi transformado, a lei alterada e a democracia instalou-se.

Em algum momento a terra foi plana, o universo infinito, o voo impossível e chupar manga depois de beber leite era fatal. Alguém teve a coragem de discordar, quebrar o padrão, pensar “fora da caixinha”. Então, é tão perigoso utilizar exageradamente nossas competências, como é julgar que tudo pode ser explicado com o que sabemos e somos agora.

É por isso que afirmo: Falta-nos a inexperiência. É com ela que ousamos o inédito, interpretamos a novidade, saimos do script, fazemos o que ainda não foi feito e inventamos o futuro.

Acredite na técnica, na ciência e no método. Estude o manual e veja o que está sendo feito. Porém, ouse na novidade, pense no absurdo, relacione os impossíveis, tente o proibido e transgrida a norma. É lá que estará, provavelmente, o caminho novo, a coisa inédita, o senso incomum, o futuro.

Lembre-se: tudo o que hoje é possível foi, há algum tempo, loucura, delírio, tabu, proibição e impossibilidade. A inovação está um passo além do conhecido. Ter a coragem de ir onde ninguém foi nos coloca diante de riscos, é verdade. No entanto, cria possibilidades que podem transformar o mundo.

*Homero Reis é coach e consultor em gente e gestão


Fonte: http://revistavocerh.abril.com.br/2011/artigos/conteudo_646409.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário