domingo, 15 de abril de 2012

'Dói demitir por mudança de estratégia'

CLÁUDIO MARQUES - O Estado de S.Paulo - Publicado em 13/11/2011
Apaixonado por internet, o engenheiro de computação Anderson Thees, formado pela Unicamp em 1996, só pensava em ser um bom gerente de TI quando iniciou, em 2001, seu MBA de dois anos na Universidade Yale. O curso, porém, acabou facilitando sua passagem do segmento web do banco suíço UBS - antes havia trabalhado na Bosch - para o setor de private equity. Foi para o fundo Eccelera ser responsável pela área de análise de investimentos em empresas de tecnologia. Em seguida, na companhia de mídia Naspers/MIH, respondia pelos investimentos do grupo na América Latina. Após esta experiência, Anderson, que hoje tem 38 anos, assumiu em fevereiro de 2010 o cargo de CEO do site Apontador, que se apresenta como líder em geolocalização da internet brasileira.
Há muita competição na internet. Como é com o Apontador?
Na internet, todo mundo é muito rápido. Se você me perguntar se minha principal preocupação é com concorrentes, direi que não, porque a empresa é líder e não corre o risco de ter uma resposta. Mas como tudo acontece muito rápido, então seu principal inimigo é você mesmo. É sua falta de capacidade de executar rápido. O foco da empresa não é tão grande e há competição muito acirrada por talentos em todos os níveis. Sem dúvida, a luta por talento é muito mais importante do que a competição por mercado, no caso de internet.
E já precisou demitir?
Ah, sim. E exatamente por causa da velocidade do mercado, essa situação ocorre com frequência muito maior do que em outras áreas. Nos Estados Unidos, no Vale do Silício, identificaram que a principal causa de mortalidade de empresa de internet não tem nada a ver com concorrente, mas com o fato de o empreendedor acelerar muito rápido, antes da hora, antes do mercado. Várias companhias que fazem isso morrem, e as que se dão conta da situação precisam desacelerar e dar um passo atrás. No mundo de internet isso ocorre com muita frequência. O pessoal fala contrate rápido e dispense rápido. É preciso estar sempre se adequando à velocidade do mercado e corrigindo os erros de análise que você faz. E todo mundo erra, isso é um fato.
Os demitidos não têm o perfil ou o mercado muda e é preciso alterar o perfil exigido?
Ocorre um pouco de tudo. Quando eu comecei na área de gestão, sentia desconforto muito grande, sentia-me pouco humano até, quando precisava demitir alguém por desempenho. Com um pouquinho mais de maturidade e vendo aí o que várias pessoas, diversos gurus de RH falam, eu me convenci de que, quando você tem um funcionário com desempenho ruim, você precisa demiti-lo - após avaliações e treinamentos -, não só porque isso é ruim para a empresa, mas também porque é péssimo para o funcionário. Ele vai ficar estagnado naquela posição e você pode achar que está fazendo um favor, mas é um desfavor enorme a ele. Ao substituir essa pessoa, está lhe dando a oportunidade de encontrar a posição onde ela vai desempenhar bem. Isso ocorre com muita frequência. Para mim dói muito mais ter de fazer uma demissão porque mudou a estratégia da empresa. E isso é, em última instância, um erro meu. Várias pessoas participam da decisão, o conselho e tudo, mas a responsabilidade última é minha. Então, se eu contrato 30 pessoas e depois descubro que só precisaria de 20 e tenho que demitir dez, me sinto muito mal mesmo.
Esses são os piores momentos na sua carreira?
Sem dúvida nenhuma, a pior tarefa é demitir por causa de mudança de cenário macroeconômico ou porque houve erro no desenho da estratégia. Essas duas coisas fazem parte, mas não são nada agradáveis.
Qual é sua dica para quem está no início da carreira?
Um aprendizado do que fiz e faria diferente é não ter muita pressa para subir. Virei CEO aos 36 anos, significa que eu vou ser CEO pelos próximos 40 anos. Se você colocar isso em perspectiva, é uma bobagem assumir esse nível de responsabilidade tão cedo. Hoje, acho melhor fazer (carreira) com um pouquinho mais de calma e estender mais tempo nos níveis hierárquicos. Assim, quando você estiver aí com seus 50 anos, vai ser um executivo melhor do que eu tendo virado um CEO tão cedo".

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