sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RH: do tradicional ao estratégico

RH: do tradicional ao estratégico
Fonte: RH.com.br – 19/06/2006[ <· Voltar ]      Imprimir ]
Patrícia Bispo*

Como ocorre na natureza, onde tudo está em constante evolução, o mundo corporativo também se encontra em permanente processo de mudança. Hoje, ao invés de ficar restrito apenas a trabalhos burocráticos, o profissional de RH passou a ser visto como parceiro estratégico do negócio, afinal é ele quem melhor conhece os colaboradores e sabe trabalhar o potencial do capital humano.

Mesmo com essa evolução, a área ainda enfrenta resistências em algumas empresas e isso acaba prejudicando o desempenho do RH e até mesmo dos demais talentos. Para falar sobre as diferenças entre o RH tradicional e o estratégico, o RH.com.br entrevistou o consultor de empresas Gilson José Fidelis.

Com 25 anos de experiência na área de RH, MBA em Recursos Humanos e Talentos, professor universitário, juntamente com a psicóloga organizacional, Márcia Regina Banov, Fidelis é autor do livro "Gestão de Recursos Humanos - Tradicional e Estratégica", Editora Érica. "A área de RH contribui na estratégia, conscientizando as empresas que precisam deixar de lado as práticas de comando exagerado, controles inócuos, hierarquias contraditórias e a burocracia", afirma.

Durante a entrevista, Fidelis fala ainda sobre os fatores que influenciaram as mudanças na área e porque alguns profissionais sentem dificuldade de serem parceiros estratégicos do negócio. Boa leitura!

RH.com.br - A presença da Globalização gerou modificações significativas para as corporações. Que influência esse fenômeno mundial trouxe para a área de RH?
Gilson José Fidelis - Com a Globalização, a sociedade e a realidade do mercado mundial trouxeram resultados expressivos às empresas, porém em muitos casos positivos e em alguns negativos, principalmente quando analisamos o seu desenvolvimento industrial, a concorrência e a forma com que se relacionam com outros países, em busca de tecnologias, diferencial que torna estas empresas competitivas.

Neste caminho na busca pela excelência, as empresas precisaram de maturidade, planejamento e recursos humanos capacitados para não sucumbirem neste mercado globalizado. A área de Recursos Humanos presenciou todos estes acontecimentos e, para responder a nova postura do mercado, precisou focar suas atividades em atender às necessidades e às expectativas dos públicos internos e externos, considerando a evolução e as tendências do mercado de trabalho.

RH - Que outros fatores influenciaram a área de RH nos últimos anos?
Gilson José Fidelis - Eu entendo que com a grande diversidade de produtos, as pessoas passaram a ser mais exigentes, e com isso, exigindo das empresas uma postura mais dinâmica e atenção às novas demandas do mercado. O organograma e seus níveis hierárquicos tradicionais vêm modificando-se nos últimos anos.

A distância entre as pessoas e a direção da empresa vem diminuindo e as decisões não estão mais centralizadas, pois para sobreviver é necessário flexibilidade, agilidade e dinamismo. A burocracia já não merece mais atenção nas empresas. A área de Recursos Humanos precisou ser cada vez mais ágil e eficaz em suas práticas internas, buscando oferecer soluções confiáveis para os gestores.

RH - Nunca se ouviu falar tanto sobre a atuação de um RH estratégico. O que diferencia esse tipo de gestão da administração do RH tradicional?
Gilson José Fidelis - A estratégia da área de Recursos Humanos não foca somente a posição de cada trabalhador no organograma, a preocupação com as suas limitações ou com a valorização da qualidade e da produtividade como sinônimos de competência e habilidade, pois com isso no meu ponto de vista, não identifica oportunidades e enfraquece o poder de decisão do grupo.

A área de Recursos Humanos contribui na estratégia, conscientizando as empresas que precisam deixar de lado as práticas de comando exagerado, controles inócuos, hierarquias contraditórias e a burocracia, para conquistarem posições de destaque no mundo corporativo e o respeito dos parceiros, reconhecida através da comunicação eficiente e contínua de suas expectativas, até o momento em que eles incorporem como próprios.

RH - A mudança da área de RH tradicional para a estratégica tem ocorrido com facilidade ou as organizações ainda apresentam resistência?
Gilson José Fidelis - Há empresas que ainda não perceberam, que o mundo globalizado requer criatividade e inovação.

Eu aprendi que uma empresa de sucesso necessita estudar todas as possibilidades, buscar informações em todos os âmbitos do negócio, fazer escolhas dos caminhos que irá seguir e o mais importante e o que poucas empresas conseguem fazer, que é implementar essas escolhas. Normalmente, as empresas que não valorizam a estratégia, reclamam do futuro incerto.

RH - No Brasil, essa evolução do RH tradicional para o estratégico acontece num ritmo satisfatório?
Gilson José Fidelis - Na minha experiência como consultor, tenho percebido uma evolução satisfatória e o que me deixa muito otimista quanto ao futuro empresarial. Da mesma forma como professor da área também é uma grata surpresa saber de tantos cursos técnicos, tecnológicos, graduação e pós-graduação abordando o tema "Recursos Humanos e sua estratégia" com extremo cuidado e seriedade. Isso demonstra que o assunto é importante e fator crítico para o sucesso das empresas e das pessoas no mundo corporativo e profissional.

RH - A cultura das empresas brasileiras facilita essa mudança do RH tradicional para o estratégico?
Gilson José Fidelis - Li recentemente que "a cultura é a filha legítima da imitação". Se analisarmos que as pessoas refletem aquilo que acreditam, o empresário que acredita na evolução das práticas administrativas inovadoras, que foca o compartilhamento de idéias entre os parceiros do seu negócio, que aprende continuamente e transfere esses valores para os demais à sua volta, pode ter a certeza que o caminho é promissor.

As pessoas buscam reconhecer nas empresas o alcance de suas expectativas pessoais e profissionais, cada qual da sua forma. Se eu percebo que na empresa onde trabalho, eu tenho na figura maior dela uma extensão dos meus projetos profissionais, esta empresa poderá contar com o meu comprometimento e não deve ser muito diferente com os demais trabalhadores.

RH - O RH brasileiro está sabendo acompanhar essas mudanças?
Gilson José Fidelis - O resultado está em grande parte na procura dos profissionais da área de Recursos Humanos pelo cursos técnicos, tecnológicos, graduação e pós-graduação, além dos diversos grupos de debate e troca de experiências que tenho visto no decorrer nos anos. Deixar de olhar para o próprio "umbigo", especializar-se e buscar informações sobre o que está acontecendo no mundo é a chave do sucesso da nossa área.

RH - Atualmente, qual o maior empecilho para um RH tornar-se parceiro estratégico?
Gilson José Fidelis - O maior empecilho é o descrédito que muitos empresários depositam na área de Recursos Humanos, pois além de reconhecerem a área apenas como a "controladoria" e tão somente isso, não dão oportunidade para os profissionais demonstrarem o real valor da área como estratégica.

RH - Que valores o RH estratégico agrega às empresas?
Gilson José Fidelis - A área de Recursos Humanos congrega a maioria das informações de todos os trabalhadores da empresa. Veja a importância de uma área que pode oferecer para os gestores, informações rápidas e confiáveis sobre a vida dos trabalhadores. A estratégia está em andar de "mãos dadas" com os objetivos da empresa, numa constância de propósitos e propor soluções criativas para o seu desenvolvimento organizacional e profissional dos trabalhadores.

RH - E quais os benefícios que o RH estratégico traz para os colaboradores?
Gilson José Fidelis - Da mesma forma que para a empresa é de suma importância obter informações confiáveis da força de trabalho, para os trabalhadores a área de Recursos Humanos atende às suas expectativas, necessidades e acompanha o seu desenvolvimento pessoal e profissional, aconselhando tanto nas normas e procedimentos quanto na sua postura profissional dentro e fora da empresa. Um trabalho de cidadania empresarial que facilita a inserção do trabalhador no real.

RH - Quais as suas expectativas para a área de RH, em médio e longo prazo?
Gilson José Fidelis - Sou muito otimista quanto à evolução da área de Recursos Humanos. Percebo que as empresas e os profissionais estão aprendendo a gostar e ter prazer em trabalhar na área. O prazer está criando entusiasmo e envolvimento, que tornam as pessoas mais capazes e motivadas, com isso atingindo melhores resultados.

Não podemos confiar no convencional, não podemos desperdiçar nosso talento contribuindo com burocracias. Inovação, flexibilidade e agilidade são marcas registradas deste nosso momento. Aprender continuamente e aplicar no nosso dia-a-dia é fundamental para o sucesso, pois o conhecimento tornou-se um bem perecível. O meu desejo é que no futuro próximo a área de Recursos Humanos seja mais próspera, mais respeitada e reconhecida pelo seu valor, em todos os âmbitos do mundo corporativo mundial.

*Jornalista responsável pelo conteúdo da comunidade virtual RH.com.br.

http://cartaderh.com.br/website/text.asp?txtCode=17611&txtDate=20060623000000

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