domingo, 17 de outubro de 2010

Arquiteto de escolhas

Arquiteto de escolhas

O economista Richard Thaler, da Universidade de Chicago, diz como os líderes podem melhorar a forma como seus colaboradores decidem

José Eduardo Costa (undefined)  11/01/2009
Crédito: Beth Rooney
Richard Thaler em discurso na Universidade de Chicago: o gestor deve questionar as premissas nas decisões dos empregados - Crédito: Beth Rooney
Richard Thaler em discurso na Universidade de Chicago: o gestor deve questionar as premissas nas decisões dos empregados
O economista americano Richard Thaler, de 63 anos, se decepcionou há alguns anos com os modelos econômicos desenvolvidos por seus colegas de profissão, por não considerarem em suas análises o fator psicológico, que influência a forma como compramos, onde investimos e até que carreira seguimos. Segundo ele, os modelos são construídos a partir de perfis ideais, extremamente racionais e não suscetíveis às emoções. No mundo real, diz Richard, as pessoas cometem erros e fazem escolhas sem considerar os reflexos no longo prazo. "Somos imediatistas", diz. Richard enveredou pela psicologia e se especializou em uma área que hoje aplica a teoria econômica à interpretação de fenômenos do cotidiano.

Ele lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e desde 1995 é professor da escola de negócios da Universidade de Chicago. No mês passado, Richard veio ao Brasil para divulgar seu livro Nudge, O Empurrão para a Escolha Certa (Editora Campus/Elsevier), escrito em parceria com Cass Sunstein, também da Universidade de Chicago. Nele, o professor apresenta o conceito de arquitetura de escolhas, segundo o qual é possível criar um ambiente de decisões que permite escolhas mais estruturadas e mais acertadas de acordo com os seus objetivos. Ele falou a você s/a.

Do que trata a ideia de arquitetura de escolhas?
Assim como um arquiteto que toma decisões ao desenhar um prédio considerando a maneira como as pessoas vão usufruir dos espaços no futuro, a ideia de arquitetura de escolhas pressupõe que você antecipe cenários, mude o peso das variáveis envolvidas na decisão, coloque-se no papel da outra parte. Esse exercício faz você ponderar sobre os prós e contras de cada possível decisão, optando pela que é mais pertinente aos objetivos que quer alcançar. Parece trabalhoso, mas a prática torna o exercício automático.

De onde tirou esse conceito?
A partir de um livro de Don Norman (The Design of Everyday Things). Nele o autor diz que os designers precisam estar atentos aos usuários de seus objetos, pois nós humanos temos de tomar dezenas de decisões todos os dias. Portanto, o design deve facilitar a vida do usuário. Da mesma forma, se você é um gestor e influencia indiretamente as decisões que as outras pessoas fazem, você é um arquiteto de escolhas e deve simplificar as opções.

Quais são as características de quem toma boas decisões?
Uma das coisas mais importantes é permanecer calmo. Evitar ficar muito entusiasmado. Quando deixamos que as emoções se apoderem de nós, fazemos péssimas decisões na maior parte das vezes. Outra coisa importante é estar aberto a diferentes pontos de vista. É muito comum ver executivos que só ouvem aquelas pessoas que concordam com ele. E esse não é um bom caminho. Quando você ouve pessoas que discordam de você enriquece a análise e tem mais chance de tomar a decisão correta.

  “Observar o cenário e saber compreender os sinais
  que as pessoas dão ajuda a tomar decisões  inteligentes",
  diz o professor Richard Thaler


Quais os erros mais comuns que um gestor deve considerar quando avalia a decisão de terceiros?
O principal erro é o excesso de confiança, que faz muitos profissionais construir modelos irreais. Ela faz as pessoas subdimensionar variáveis importantes e que podem levar um projeto ao fracasso. Portanto, o gestor deve questionar a fundo as presunções feitas pelo empregado. Outro erro bastante comum é o que eu chamo de aversão à perda. Isso acontece porque as pessoas são mais sensíveis às perdas do que aos ganhos. E isso é um problema quando a empresa precisa inovar e seus profissionais só tomam medidas convencionais. Muitas vezes nós temos de arriscar e perder algo para conquistar um bem maior no futuro. Claro, a empresa deve incentivar esse comportamento.

No livro você menciona o conceito de postcompletion error, o que é isso?

Muitas vezes as pessoas tomam decisões e na hora de implementar focam nos objetivos de curto prazo, esquecendo-se das metas de longo prazo. A decisão não fica prejudicada, mas a execução sim. E quando as coisas vão mal no futuro, a pessoa será questionada. Deixar de considerar o impacto da decisão no médio e longo prazos é um erro.

No livro você sugere que, antes de tomar decisões, devemos procurar o meio ambiente e as pessoas envolvidas no processo. Como isso funciona?
Observar o cenário e saber compreender os sinais que as pessoas dão ajuda a tomar decisões inteligentes. Fala-se muito no tal efeito manada como uma coisa ruim. Em algumas situações seguir a manada pode ser benéfico. Por outro lado é preciso lembrar que a crise que está aí começou por causa do consumo desenfreado das pessoas, que viam seus vizinhos comprando um carro novo, uma casa nova. Essas mesmas pessoas decidiam tomar empréstimos sem avaliar qual seria o impacto caso o cenário mudasse (aumentos dos juros, perda de emprego etc.).

Falando em escolhas de carreira, quais são os enganos mais comuns?
Um dos erros que vejo entre meus alunos na escola de negócios da Universidade de Chicago é as pessoas escolherem as carreiras baseadas no campo que elas mais gostam de estudar. E isso não necessariamente quer dizer que essas pessoas vão ser felizes ou bem-sucedidas.

As pessoas fazem essa opção pois são levadas pela paixão sobre o tema, não é?
Sim, mas a escolha de carreira também pressupõe entender quais são seus interesses financeiros, pessoas com quem quer conviver e qual a perspectiva de médio prazo. Muitas vezes o trabalho em si não é tão interessante quanto a área de estudo. Você tem que entender do que se trata a carreira ou o emprego a que aspira e descobrir se você gosta. Daí, decidir.

http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/arquiteto-escolhas-483510.shtml

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