quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lição dos mares mais difíceis


Lição dos mares mais difíceis
Paulo Cury - Gazeta Mercantil
Anualmente 30 mil pessoas visitam a Antártica, dessas entre 100 a 120 vão de veleiro, o restante viaja em grandes navios transatlânticos.
Tive a oportunidade de ir para a Antártica de veleiro e sentir o que é velejar nos mares mais difíceis do planeta. Velejar nas latitudes 50 e 60 é um tarefa que requer planejamento cuidadoso, uma execução focada e fléxivel sem erros.
O planejamento passa por uma análise cuidadosa das previsões de ventos para três ou quatro dias; tempo que normalmente leva para completar a travessia entre a América e a Antártica. Ventos de 50 nós e ondas de três a cinco metros, algo preocupante nos mares tropicais, são usuais no Drake, mar que separa esses dois continentes. O que os velejadores buscam é evitar ventos de 60 a 70 nós e ondas de 10 a 15 metros que acontecem com frequência nessa região aonde o Pacífico e o Atlântico se encontram sem nenhum anteparo natural - terra e montanhas - que segure os ventos.
Além da análise cuidadosa das previsões é importante decidir o momento certo de partir que é entre as frentes frias que usualmente, a cada três dias, assolam essa região. Soma-se a isso o fato de que tanto na saída da América do Sul quanto na chegada é necessário ultrapassar a plataforma do continente Americano onde situa-se o famoso Cabo Horn e aonde a produndidade é de 50 a 70 metros, contra 1000 metros de profundidade no mar aberto há menos de 100 kilometros ao Sul dessa região; o que torna as condições do mar e de nevagação ainda mais complicadas nesta região, já que as ondas podem crescer muito pela baixa profundidade associada ao vento forte.
Uma vez no Drake não dá para voltar para trás. Se entrar um tempo muito ruim é preciso aguentar as consequências da escolha realizada. Além disso, o velejador precisa estar preparado para se adequar constantemente às mudanças nas condições do vento (força e direção) e as condições do mar (correntes, tipos e tamanhos das ondas). Tal adequação requer que sejam revistos continuamente o rumo previsto versus a direção do vento, e que sejam efetuadas mudanças constantes nas velas para adequá-las às condições de vento.
Acredito que a experiência de velejar no mar mais difícil do planeta traga algumas lições importantes para o mundo dos negócios.
Primeiramente é fundamental se preparar adequadamente para fazer frente aos objetivos definidos. Porém, não adianta a melhor preparação do mundo se não houver “a partida”. Quantos projetos e oportunidades nas empresas são análisados e reanalisados e perde-se o timming porque ninguém tomou a decisão de correr os riscos e seguir em frente.
Em segundo lugar, é necessário executar e fazer acontecer. As melhores idéias sem execução não passam de commodities de baixo valor.
Finalmente, é imperativo adequar a execução às mudanças de mercado, e aos movimentos da concorrência. As empresas que executam mal, o fazem pois tem pouca margem de manobra.
A diferença entre o mar e o mundo dos negócios é que o mar cobra o preço dos erros de forma rápida e impiedosa ... enquanto no mercado os erros demoram um pouco mais para serem pagos; pois o mercado dá a impressão, somente a impressão, de que os erros não serão cobrados.
O que geralmente acontece é que a conta: da falta de planejamento, da inércia, da execução “descolada” do que foi planejado, e da baixa flexibilidade em se ajustar a execução às mudanças nas condições do mercado virá em forma de perda de market share, diminuição na qualidade percebida nos serviços por parte dos clientes e da queda na rentabilidade nas operações.
O que o mar mais duro do planeta ensina é que planejamento é fundamental, porém planejamento sem execução não tem serventia e que não basta executar cegamente o que foi definido, e sim executar olhando continuamente possíveis mudanças nas condições de mercado para promover os ajustes necessários e melhorar o resultado final do que está sendo executado.

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