domingo, 20 de setembro de 2009

Sobre Amor-Paixão e Amor-Amizade

by Inês Cozzo Olivares

Alguns sabem, outros saberão agora. Eu estive uma semana em Portugal. Foi pra mim o início de um novo ciclo - fiz aniversário dia 30 passado.

Alguns sabem, outros saberão agora. Quando dou aulas ou palestras, quando escrevo livros ou estes boletins, quando conduzo reuniões ou processos de coaching, ou qualquer coisa que eu faça no meu trabalho, quem aparece é a consultora - e ela tem cara de consultora, mas quem "pilota" a consultora é uma adolescente de 17 anos profundamente apaixonada pelo que faz! Eu espero muito que isso apareça na forma como faço tudo que faço. Nesse sentido, há uma congruência permanente em mim. Continue lendo e você verá onde quero chegar.

Fui para Portugal principalmente para o que chamarei de um retiro que era pra ser de uma forma, mas foi de outra, não menos importante que aquela que idealizei, e que me traz até aqui com uma inquieta-ação pra compartilhar com você que lê as coisas que escrevo. Desejo muito suas considerações, opiniões, palpites, sugestões ou, simplesmente, suas próprias inquietAções. Fique mais que a vontade pra enviá-las por esta mesma via.

Estive e estou pensando... Existe um Amor que se constrói com o tempo. Ele tende a ser sereno, amigo, seguro, tranquilo. A gente até o chama o tempo todo de porto seguro. Quando estamos carentes, ele nos aplaca a solidão e minimiza a angústia, a tristeza ou qualquer outro sentimento ou emoção que chamamos "negativo(a)". E isso é bom. Nos faz bem. Mas, como disse John A. Shaedd: "Um barco está seguro num porto, mas os barcos não são construídos para isso."

Existe também um outro tipo de Amor. É o amor-paixão. Ele é incendiário, espontâneo, nasce sem que a gente faça absolutamente nada pra que ele se manifeste. A gente apenas vê o outro, ouve a voz dele(a) e o corpo muda, por dentro e por fora... A Alma grita "- Eu quero! Eu preciso!" Aliás, na maioria das vezes, a gente até tem que fazer um esforço tremendo pra disfarçar, mas ele é poderoso e escapa. Não raro, quem chega perto também pega fogo. É adrenalina no sangue, coração batendo rápido, pulsação à mil por hora, respiração que ora acelara ora fica suspensa. A ansiedade pela chegada daquele e-mail, dele(a) estar no MSN na hora em que você se conecta, de vê-lo(a) chegando de surpresa, de conseguir um toque, um beijo, um tempo junto roubado, sabe Deus de quem ou do quê... Me entende? Sabe como é? Pois é. Todo mundo já viveu um amor assim. De perder o juízo e o bom-senso. Hummm... retificando, eu desejo do fundo do meu coração que todo mundo já tenha vivido um amor assim porque ele nos faz sentir absolutamente vivos! Como disse Adriana Falcão com uma precisão incrível "Paixão é quando, apesar da placa "PERIGO" o desejo vai e entra." É o barco na aventura do alto-mar, enfrentando tempestades e ventos loucos pra descobrir novos horizontes, pra conhecer outros continentes, enfim, pra evoluir, pra crescer, pra dar sentido à vida. É pra isso que os barcos foram feitos. Pra navegar.

Não quero comparar os dois tipos de amor no sentido de qual é o "bom" ou o "certo" nem nada parecido. Quero refletir sobre o que a gente escolhe na vida e fazer uma comparação, aí sim, entre esses dois tipos de amor na vida pessoal e na vida profissional.

Eu conheço um monte de gente, bem mais do que eu gostaria, que num momento de fragilidade, de carência, encontraram um(a) amigo(a) (quase sempre na mesma situação) e decidiram construir uma vida juntos e isso os salvou de naufragar. Vai correr tudo bem, pelo que sei, desde que o amor-paixão nunca apareça ou, pior, REapareça, porque os que reaparecem costumam vir com a força de anos represados. E, aí, a alma vai cobrar. Vai perguntar o que você tá fazendo com a sua vida. Vai dizer que é um barco e que não foi feita pra ficar no porto. Vai te obrigar a fazer coisas das quais você vai se envergonhar porque sabe que não são éticas, mas são muito mais fortes que você. Vai te cutucar até você atravessar oceanos e continentes pra se sentir viva(o), pra SER.

Uma vez, um amigo do Tuim (meu marido) chamado Luiz Carlos Teixeira de Freitas, no lançamento de seu livro "Por que fazer terapia?" escreveu na dedicatória algo parecido com ajudar as pessoas a encontrarem formas mais felizes de ser e estar. Isso me impactou profundamente. Daí, eu vi num documentário que, na cultura indígena, eles escolhem quando partir desta vida, voluntariamente. Assim de simples! Eles avisam à tribo que partirão naquela noite, despedem-se, deitam-se e pronto. Eu juntei tudo isso dentro de mim, acrescentando o fato de que meu próprio ideal de fim de vida é que quero que a morte me encontre vendo a expressão de surpresa no rosto do meu companheiro de toda uma vida, flagrados em pleno ato de amor, aos 90 anos de idade! Então, saberei que vivi intensamente. Mais feliz ainda ficarei, se mais nada ela puder me tirar senão a vida em si. Somando isso tudo, minha missão com meu trabalho, e com tudo que realizo nesta vida, ficou assim: Ajudar as pessoas a encontrarem formas de ser e estar mais felizes na vida, até um dia deixarem de ser e estar, voluntariamente e sem arrependimentos. Essa missão eu pratico diuturnamente na busca de uma visão como a do Fábio Brotto : "Um mundo onde TODOS possam Ven-Ser". Um vir a ser com sabor de sucesso! Não esse sucesso estilizado que a mídia vende mas aquele que nosso coração SABE que é!

Agora chego ao meu ponto neste texto específico. Me dói assistir à um mundo onde as pessoas, a grande e esmagadora maioria das pessoas, está num "emprego", num porto seguro, com medo, rotinizadas, automatizadas, vivendo uma vida de plástico, por um salário no final do mês, à espera de que um milagre aconteça e elas comecem a viver de verdade. Com paixão! Algumas delas sequer sabem o que é que as apaixona. Não têm bússola. Navegam à esmo. Estão perdidas e profundamente infelizes; aí acham que a culpa de sua infelicidade é seu trabalho, seu casamento porto-seguro rotinizado, mantido no piloto automático à là Chico Buarque "todo dia ela faz tudo sempre igual...". Não é. Isso tudo é reflexo, é consequência. Sua infelicidade está aí por causa do seu medo. Viver com medo é viver pela metade e quem tem medo de viver já morreu e nem sabe disso!

Sabe o que é que faz com que virar a noite "trabalhando" não signifique absolutamente trabalho? A paixão pelo que se faz! Quem não tem paixão pelo que faz, vê gente completamente apaixonada, como eu, não separando vida pessoal de vida profissional e acredita que isso é doença. Nos chamam de workaholicsAtenção! Não nego que isso exista. A fuga de uma vida vazia pelo trabalho compulsivo, obsessivo existe, claro que existe, mas não se pode colocar todo mundo na mesma categoria de doença, só porque que vê em tudo uma ligação com aquilo que faz profissionalmente. Não é verdade.

Eu amo o que faço e tudo que me cerca me leva a conhecer melhor e a fazer melhor o que faço. Eu largo o computador, o celular, a agenda, na hora que eu quiser pra ver Harry Potter (adoooro) no cinema! Ou uma boa comédia romântica (adooooro!) no DVD ou na TV. Eu vi filmes deliciosos nos vôos de ida e volta pra Portugal. Assista "A proposta", "17 outra vez" e "Nova na cidade". Eu te desafio a não se identificar com alguma coisa nos personagens desses filmes. Eu encontrei centenas de links entre eles, minha própria vida e meu trabalho no sentido de facilitar a aquisição de consciência pelas pessoas que estão sem bússolas! Mas, nem por isso deixei de me divertir imensamente mergulhada na história do filme! Eu também te desafio a não rir muito com "A proposta".

Eu passeio muito. E onde quer que eu esteja, no cinema, no sofá de casa, no México, em Cuba, no Chile, nos EUA, em Portugal, na casa dos meus pais ou dos meus amigos... Vejo a vida se manifestando de formas diferentes e é com a vida que eu trabalho. É pela vida que me apaixono. E quando eu me apaixono faço papel de boba e não me importo com isso. Prefiro esse papel ao de arrependida. Que a morte não possa nunca me tirar o fato de que vive aquilo em que eu acreditava da forma como acreditava! Eu também mudo de idéia, mudo minhas crenças. Como Juscelino kubitschek, não tenho nenhum compromisso com o erro!

Sinto que isso não acaba se eu não decidir parar de escrever, mas o principal já foi dito. Só falta você se perguntar se seu barco está apenas parado no porto, isolado ou se isolando gradativamente dos outros barcos, comendo, bebendo, dormindo e "trabalhando" pra pagar as contas do fim do mês ou se você tem permitido que ele navegue porque foi pra isso que ele foi construído. Já disse o poeta: Navegar é preciso, viver (esse tipo de vida) não é preciso.

Só mais uma coisa. Se você já sabe o que é que faz seu coração acelerar e o sangue correr mais rápido nas veias, tá esperando o quê?

Inês Cozzo Olivares
São Paulo, 05 de agosto de 2009

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