domingo, 20 de setembro de 2009

Era uma vez...

"Era uma vez..." que modo mais encantador de se começar uma história. Nem conta quando aconteceu. A gente tem que ler pra descobrir. Ou imaginar... O que é melhor ainda! Adoro imaginar...

Todo mundo tem uma porção de "era uma vez...". Todo mundo. Sem exceção. Eu me pergunto se todo mundo percebe isso. E, se percebe, será que dá o devido valor?

Me pergunto essa coisas, por acreditar que somos pessoas feitas de histórias. O Homem é um animal histórico. O único, até onde se sabe, que sabe de onde vem (crianças sempre querem saber sobre isso, já notaram?), onde está e pra onde vai, isto é, o único, até onde se sabe, que sabe que vai "morrer" um dia.

E o Homem é um animal que não gosta muito da idéia de morrer. Acho que é porque a maioria acredita que vai deixar de existir. E como animais históricos que somos, a maioria de nós não gosta da idéia de deixar de existir. Pelo menos, não sem fazer alguma diferença pra alguém.

Nem vou me meter em questões últimas. Alguns acham que morre, outros que acaba, transcende, volta, fica por lá mesmo... Nunca valeu a pena pra mim, me meter nesse tipo de debate que envolve questões finais, sabem? Então, apenas respeito.

Mas que não gosta, não gosta. Querem ver?

Outro dia, ouvi em algum lugar uma história de uma criança perguntando ao pai:

- "Mas pai, quando você morrer, quem vai cuidar de mim?"

E o pai, "educando" o filho:

_ "Não filhinho. Não é quando. É "Se". Se o papai morrer..."

Bem, lamento informar, mas a morte não é uma questão hipotética. É, decididamente, uma questão cronológica. Logo, não é "se" é "quando" mesmo.

Tem uma coisa que me interessa muito nisso de "era uma vez" somado ao fato de sermos animais históricos.

Como eu dizia, a gente quer fazer diferença. Deixar alguma coisa aqui depois que se transformar em outra que não seja mais Humano ou Humana, conforme cada crença que, já combinamos, não vem ao caso agora.

Para a maioria de nós, o que deixamos como continuidade são nossos filhos. Eles escrevem suas histórias a partir das nossas. Sempre me pergunto se as crianças estão ouvindo as "más" histórias -- seu pai fez isso, seu tio foi aquilo, sua avó era aquilo outro... e uma coisa negativa na sequência -- ou se as "boas" histórias, aquelas que ajudam a construir o caráter. Você puxou a inteligência do seu pai, a bondade da sua mãe, o senso de humor do seu tio, a gentileza da sua avó... Tomara que sejam estas. Tomara!

Sabiam que, na antiguidade, o pior castigo não era a morte? Era o banimento da tribo. Nunca mais seu nome poderia ser, sequer mencionado. Pior que deixar de existir, é nunca ter existido.

Tem até coisa pior que é ter existido pra alguém e ser esquecido. Nossa isso dói muito!

Fábio Jr. tem uma música sobre as coisas que nunca aconteceram e como elas doem... Sobre nossos "Era uma vez..." que não tiveram um "E viveram felizes para sempre...". Chama-se CHORO. Ele fala de uma relação que deixou de existir quando ainda tinha muita história, muitas possibilidades, muitos "Era uma vez..." potenciais. São só estas que doem. As que ainda prometiam... Por tudo que eu sei, elas cobram com uma força lascada anos depois... Melhor escrever histórias com começo, meio e The end.

Mas, nós queremos fazer história. De uma forma ou de outra. E da melhor forma possível, inclusive. Não conheço ninguém que não se importe, de verdade, com o que falam sobre seu caráter, ou personalidade. Da boca pra fora, tem sim. Pra valer, tem não.

- "Falaram de mim, é? O quê?" Com um ar assim, quase, quase, desinteressado. Como mulher que passa o dia inteiro se arrumando pra parecer que já saiu da cama daquele jeito. Displicentemente elegante. Básico.

Acho que é isso, nós, animais históricos, precisamos nos unir se queremos fazer história. Se queremos fazer diferença no mundo!

Como disse Hélio Ribeiro no seu livro "O poder da mensagem" que marcou minha pré-adolescência:

"Inteligentes do mundo, uni-vos. Que os imbecis já estão"

Inês Cozzo Olivares

http://jogoscooperativosefe.ning.com/profiles/blogs/era-uma-vez

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