quarta-feira, 29 de setembro de 2010

No mesmo prumo

Em sua quinta edição, pesquisa do GPTW e da revista MELHOR mostra que o alinhamento à estratégia e à cultura é o que diferencia as melhores práticas em gestão de pessoas
Quando, em 1995, dois jovens estudantes de doutorado da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), resolveram unir suas ideias, não imaginavam que iriam participar tanto da vida das pessoas ao redor do planeta. Larry Page e Sergey Brin um dia pensaram como seria criar um algoritmo matemático capaz de indexar e organizar todas as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis para as pessoas. Essa ideia deu origem, três anos depois, a um mecanismo de busca na internet, o preferido de dez entre dez internautas: o Google.

Com um valor de mercado em torno de 39,7 bilhões de dólares e apenas 12 anos de idade, o Google recebe mais de um bilhão de consultas por dia. E não são apenas esses números grandiosos que marcam a companhia que vem ampliando sua atuação para além das buscas na web. Por trás de toda a tecnologia aplicada, há uma gestão calcada na criatividade e informalidade, que vai desde a maneira como lidar com as pessoas até o espaço físico da empresa.

Quem visita o Google pela primeira vez, e espera encontrar um local de trabalho como os outros, é surpreendido logo de cara. O ambiente de trabalho é colorido e todos trabalham num espaço aberto e com estações de trabalho sem fronteiras. Não se fica isolado dentro de uma sala, a não ser em casos de profissionais que precisam de um pouco mais de privacidade por causa da sua atividade, independentemdente de sua posição na hierarquia da companhia. Mesmo assim, eles dividem salas com outras pessoas com a mesma necessidade. Isso reflete um pouco do espírito do Google: todo mundo vê todo mundo.
Pelos corredores, podem ser encontrados patinetes.

As estações de trabalho são decoradas ao gosto de seu inquilino, com bichos de pelúcia, fotos, luminárias, cacarecos - tudo com o toque especial de cada um. O escritório tem também várias salas sociais, que podem ser usadas para descanso, jogos ou assistir a um vídeo e são decoradas com pufes e sofás espalhados pelos cantos, redes para relaxar ou tirar uma soneca. "O grande diferencial da empresa é permitir que cada funcionário seja único, que ele possa gerir sua carreira e assumir sua própria identidade dentro do ambiente corporativo", diz Felix Ximenes, diretor de comunicação e assuntos públicos do Google.

Como resultado desse modelo de gestão, incluindo o de pessoas, a empresa conquistou pela primeira vez o posto de melhor para trabalhar no ranking elaborado pelo Great Place to Work (GPTW) com a revista Época. E também é o principal destaque da lista das melhores práticas de MELHOR, também em parceria com o instituto.
Este é o quinto ano consecutivo que a revista oficial da ABRH-Nacional leva para seus leitores o que há de melhor nas melhores empresas para trabalhar. Nesta edição, estão 17 empresas que comprovam que investir nas pessoas é uma ação mais do que recomendável - é uma questão de fortalecimento.
Que o diga Ruy Shiozawa, CEO do Great Place to Work no Brasil.

"Se vale a pena investir em pessoas? Sem dúvida", diz ele categoricamente. "Nesses tempos nebulosos, os índices da Bolsa nos EUA despencaram - por aqui, apenas caíram. Não vou dizer que as melhores empresas para trabalhar passaram incólumes por isso, mas a queda, no caso delas, foi bem menor que as demais", conta o consultor. Vale atentar para alguns dados: ao olhar para a rentabilidade de ações, no Brasil, entre 2000 e 2009, é possível perceber que para uma aplicação de 100 reais feita no início desse período há dois quadros distintos. Quem, porventura, tenha investido nas ações das melhores para trabalhar teve um retorno de 1,205 mil reais no ano passado. Nas demais companhias listadas na bolsa, esse valor foi de apenas 409 reais. Em 2008, esses números foram diferentes, mas mantiveram a grande distância entre si: 1,214 mil reais para as melhores e 444 reais para as demais. "O desempenho do Ibovespa foi muito bom de 2000 a 2008. Caiu um pouco em 2009, mas, mesmo assim, não foi tão ruim. No entanto, o desempenho das melhores para trabalhar é três vezes melhor", diz Shiozawa.

Além disso, ele observa que a rotatividade voluntária nas melhores empresas é bem inferior à média das demais. Nos EUA, por exemplo, no setor de varejo, o índice médio de turnover é 53%; já nas companhias consideradas as melhores para trabalhar ele é de apenas 14%. No setor de Telecom e TI, a relação fica em 19% na média e 9% nas melhores.

Ou seja, as melhores empresas que sabem lidar com as nove melhores práticas têm turnover significativamente menor, o que significa que retêm talentos; reduzem gastos com saúde (afastamentos e assistência médica); possuem um ambiente que estimula a inovação, criatividade e risk taking (erros não intencionais); estabelecem uma relação de maior colaboração; geram melhor atendimento aos clientes e maior qualidade dos produtos ou serviços oferecidos; e recebem muito mais candidatos, em outras palavras, atraem talentos.

Por falar nisso, somente no ano passado o Google recebeu mais de 10 mil currículos. E para quem pretende dobrar o número de funcionários nos próximos anos, é preciso ter um processo de recrutamento e seleção bem estruturado e alinhado à sua estratégia e cultura. Não por acaso esta é outra categoria na lista MELHOR/GPTW em que a empresa se destaca.

Nesse ponto, Shiozawa destaca o que vem caracterizando as melhores práticas das melhores empresas: esse alinhamento. "A Caterpillar foi a campeã no ano passado e este ano ficou em quarto lugar no ranking geral. Ela passou por momentos complicados, nos quais teve de demitir pessoal e suspender promoções, por exemplo. Mas, de uma forma geral, essas medidas não a prejudicaram na avaliação feita pelos funcionários; a distância entre as primeiras empresas na lista é milimétrica. O que ajudou a companhia nesse sentido foi que ela soube comunicar muito bem as ações. O processo de comunicação da Caterpillar está muito ancorado e alinhado aos valores e estratégia da empresa, bem como aos demais processos de RH", explica o CEO do GPTW.

Empresas de referência
O editor de MELHOR, Gumae Carvalho, conta que, ao longo desses cinco anos de parceria com o GPTW, é possível identificar algumas empresas que vêm se destacando mais em algumas categorias. "A Caterpillar é um exemplo. Nos últimos três anos ela é referência no que se refere ao tema missão, visão e valores. Isso é fruto do processo de reestruturação pelo qual a empresa passou há alguns anos", diz. Outra companhia que também se destaca é a Kimberly-Clark Brasil no quesito remuneração.

Como lembra Sérgio Nogueira, gerente de remuneração e benefícios da companhia, o segredo desse reconhecimento está calcado em três pontos: a clareza do planejamento; a política de remuneração variável; e o trabalho integrado com os diversos departamentos da Kimberly-Clark.

Já na categoria RH de empresa de grande porte, o Bradesco aparece como destaque neste ano e também em 2007 e 2008. Entre todas as ações desenvolvidas no banco, talvez uma que seja ressaltada é o conceito de carreira fechada, que na companhia significa ter possibilidades de desenvolvimento e de ascensão dadas a todos os funcionários. O próprio diretor de RH da instituição, José Luiz Rodrigues Bueno, é um exemplo: ele começou a trabalhar no banco aos 19 anos, em 1972, como escriturário. Além dele, o atual presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, também começou sua carreira no banco.

"Quando as empresas dão atenção verdadeira às pessoas, estas se dedicam mais. Isso aumenta a sensação de pertencimento, fator crucial para o engajamento", diz Shiozawa. "E é esse sentimento que predomina nas melhores para trabalhar."

No Google, por exemplo, o modelo de gestão de pessoas adotado faz com que cada colaborador esteja comprometido com as metas da companhia e tenha  total liberdade para escolher a melhor estratégia para atingir seus resultados. "Isso aumenta a responsabilidade de cada um, e ao mesmo tempo, traz satisfação por saber que eles têm poder de decisão sobre seu trabalho", explica Felix Ximenes, diretor de comunicação e assuntos públicos da empresa.

A seguir, estão algumas das melhores práticas das melhores empresas para trabalhar do país. Assim como algumas dessas companhias iniciaram um processo de benchmarking entre si, como revela Shiozawa, nada mais natural que algumas das ações aqui descritas não possam ser adaptadas. "É um bom momento de avaliar o que pode ou não ser feito na empresa. É uma chance de apresentar aos demais líderes possíveis caminhos que possam fortalecer ainda mais a companhia", diz o CEO do GPTW.
Todos nós concordamos.


Para seguir as melhores
Confira as empresas que se destacaram este ano e as suas respectivas categorias:
Google
RH da melhor empresa / Recrutamento e seleção (REtS)

Caterpillar
Missão, visão e valores / Práticas para executivos

Kimberly-Clark Brasil
Remuneração / Desenvolvimento de lideranças

Bradesco
RH de empresa de grande porte

Chemtech

Celebração

Cola-Cola Recofarma
Qualidade de vida

Cultura Inglesa

Práticas para mulheres

Ericsson
Diversidade
Fundação FiatEducação e capacitação

JW Marriott

Reconhecimento

Kaizen
Hospitalidade

Laboratório Sabin
Benefícios

Magazine Luiza

Comunicação

Mc Donald´s
Práticas para jovens

Plascar
Responsabilidade social

Pormade Portas

Envolvimento e novas ideias

Zanzini
RH de empresa de menor porte

Quadro de frequência
Quem esteve mais na relação da revista MELHOR/GPTW
EMPRESA QUANDO
Accor 2006/2007/2008/2009
Caterpillar 2006/2008/2009/2010
Chemtech 2007/2008/2009/2010
Kaizen 2006/2007/2008/2010
Magazine Luiza 2006/2007/2008/2010
Por número de categorias conquistadas
EMPRESA NÚMERO
Chemtech 7
Accor/Caterpillar/Kaizen/Magazine Luiza 4

Buscar inspiração
Empresas que estão se transformando em especialistas em determinadas práticas em função do número de vezes em que foram destaque:
EMPRESA CATEGORIA ANOS
Bradesco RH empresa de grande porte 2007/2008/2010
Caterpillar Missão, visão e valores 2008/2009/2010
Kimberly-Clark Remuneraçã 2008/2009/2010
Kaizen Hospitalidade 2007/2010
Laboratório Sabin Práticas para mulheres 2008/2009
Mc Donald's Práticas para jovens 2009/2010
Plascar Destaque confiança 2007/2008
Zanzini Comunicação 2007/2008

As nove práticas culturais
Veja as práticas que são levadas em conta na pesquisa e das quais se originam as destacadas nessa edição
Inspirar: como as empresas transmitem missão, propósito e metas e como externam a importância do trabalho de cada um, ajudando as pessoas a entender o significado de suas contribuições para o sucesso do negócio e mobilizando-as por meio de seus valores organizacionais.

Falar:
como compartilham informações e deixam claro o que esperam da equipe, de forma honesta e transparente, em diferentes linguagens para alcançar os diversos públicos, através de uma multiplicidade de canais, mas sempre que possível transmitindo pessoalmente.

Escutar: como as organizações se mostram abertas e acessíveis para que as pessoas possam perguntar, sugerir e expressar suas críticas. Como é o incentivo de ideias e sugestões. De que forma os gestores envolvem a equipe nas decisões que afetam seu trabalho.

Agradecer:
como a empresa mostra, cultiva e reforça um clima de apreciação pela contribuição única de cada colaborador para o resultado alcançado, reconhecendo com sinceridade e de maneira imparcial o esforço extra e o bom trabalho dos colaboradores.

Desenvolver:
como ajudam seus funcionários a descobrir, desenvolver e nutrir seus talentos, fomentando um ambiente de aprendizagem e fornecendo caminhos para que os colaboradores cresçam pessoal e profissionalmente. De que maneira as empresas promovem oportunidades de desenvolvimento de carreira, transmitindo a noção de imparcialidade e meritocracia. E também como disponibilizam os recursos e ferramentas necessários para o trabalho de cada um.

Cuidar: como mostram preocupação com as necessidades pessoais e profissionais dos funcionários, proporcionando um ambiente de inclusão, respondendo criativamente à necessidade das pessoas de equilibrar trabalho e vida pessoal, ajudando os colaboradores a lidar com crises pessoais e profissionais, e se mostrando presentes nos momentos importantes da vida dos colaboradores.

Contratar e receber: de que maneira selecionam pessoas com talento, que contribuam com o crescimento da organização e que sejam alinhadas à cultura da empresa, e como dão as boas-vindas aos novos membros da equipe, recebendo-os e integrando-os no time.

Celebrar:
como as empresas celebram as conquistas de forma única e diferenciada, encorajando o espírito de equipe e uma atmosfera de camaradagem.

Compartilhar:
como dividem os frutos do esforço conjunto de sua equipe de maneira justa e generosa, e como se envolvem e envolvem seus colaboradores nas iniciativas de compartilhar estes frutos também com a comunidade.


http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=12971

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