quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Que é Espiritualidade?

Entrevista de Jair Moggi para o Jornal "O Dia" BH

No contexto do nosso ultimo livro (meu e do meu sócio Daniel Burkhard): Como integrar Espiritualidade e Liderança (Editora Campus Eslsevier), nós conceituamos espiritualidade diferenciando-a de religiosidade. A espiritualidade é uma coisa única, já as diversas religiões que existiram e existem são caminhos diferentes para a espiritualidade. É esse “religare” que faz o caminho para o espiritual, a partir do ponto de vista de cada corrente religiosa.
As religiões apareceram e aparecem em determinados contextos históricos, culturais da humanidade e representam uma forma de ver o mundo dos líderes fundadores dessas correntes, e normalmente essas visões são deturpadas pelos seguidores.
É importante dizer também que esses líderes sempre atuaram inspirados pelo mundo espiritual. Mesmo religiões que não tiveram um fundador como o hinduismo, por exemplo, que poderia se dizer ser a religião mais antiga do mundo e que inspirou muitas outras, tem no seu arcabouço uma sabedoria primordial inspirada por seres espirituais, o que era normal para aquela época cultural da humanidade e para aquele estagio de consciência do ser humano, quando ainda predominava uma consciência abafada ou mítica.
A expressão espiritual no livro deve ser compreendida no seu sentido místico, isto é: místico como denotado no radical da palavra mistério, ou seja, aquilo que não vemos, mas que intuímos existir, aquilo que não entendemos, mas que todas as tradições e culturas reconhecem e respeitam.
O conceito de espiritualidade se caracteriza por possuir elementos comuns a todas as grandes religiões como o amor, o respeito à vida em todas as suas manifestações, o livre arbítrio, a esperança, a fé, a ética, a integração, a verdade, a bondade, a beleza, a igualdade, a fraternidade e a liberdade.
No livro é destacados algumas leis ou princípios espirituais que fazem parte do oceano, formado pelo que é comum de todas as tradições religiosas e que estão por traz dos processos sociais e das instituições sociais que o ser humano cria, entre elas, as empresas e os grupos onde atua.
São leis e princípios inovadores, mas ao mesmo tempo antigos, por que são eternos. Eternos, porque são de natureza espiritual, isto é, estão na base de tudo o que sabemos e sentimos, como seres co-criadores da realidade que nos cerca.
Ao se trabalhar com conceitos espirituais nas empresas, no fundo estamos falando em elevar os níveis de consciência das pessoas e dos grupos sem perder de vista os resultados materiais. É entender que ninguém pode ganhar o máximo e o tempo todo sem que isso cause desequilíbrios no meio ambiente, infelicidade ou conseqüências nefastas para a sociedade no médio e longo prazos.
A nossa experiência de observações de longo prazo tem mostrado que para quem é causador ou se orienta por atitudes e ações excessivamente materialistas, a vida ou o destino acaba sempre colocando essas pessoas em situações onde essas ações são cobradas através de um profundo vazio existencial ou de uma infelicidade no seu círculo íntimo e até mesmo por doenças somatizadas.

Na prática como e por que integrar espiritualidade e trabalho?

A resposta a essa questão depende de uma digressão e respostas a algumas sub-perguntas do tipo:
Se olharmos para a situação atual do mundo e da humanidade, poderemos sem dúvida nos orgulhar pelos grandes avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas. Parece que somos capazes de realizar qualquer coisa: O que ainda não conseguimos realizar é apenas uma questão de tempo. Essa é uma verdade que pode ser assumida.
Exploramos o espaço sideral; arrancamos os segredos da vida através das descobertas da essência do DNA e do genoma humano. Podemos alterar geneticamente qualquer ser vivo; podemos clonar e podemos criar novos seres que nunca haviam existido antes. Podemos nos comunicar de qualquer lugar do Planeta com qualquer pessoa em qualquer outro lugar. Isso sem considerar toda a tecnologia que desenvolvemos em torno do átomo. Parece que a fronteira de nosso conhecimento não tem limites tudo é simplesmente deslumbrante!
Mas, apesar de todo esse deslumbramento com os avanços científico-tecnológicos, um número cada vez maior de pessoas começa a se questionar se estamos no caminho certo; pois os problemas não solucionados pela humanidade começam a se avolumar. Vemos poluição de todos os lados: da terra, do mar, dos rios, da atmosfera, dos lençóis freáticos, das calotas polares. Estamos em vias de contaminar todo o nosso meio ambiente.
Os desastres e fenômenos climáticos são cada vez mais severos e numerosos; a camada de ozônio se encontra em deterioração crescente. Parece que com cada conquista tecnológica, a Terra paga um preço com perda da sua vitalidade. O fato verdadeiro é que nós, enquanto humanidade, estamos sujando cada vez mais nosso próprio ninho, nossa própria casa. Cada vez mais pessoas, se perguntam: Onde isso vai dar?
É fácil constatar que a nossa evolução tecnológica com todas as suas conquistas está intimamente ligada a dois fenômenos crescentes: poluição e extinção. Estas duas expressões estão ligadas à perda de vitalidade e conseqüentemente à morte. Cada espécie extinta no planeta é um passo seguro na direção de nossa própria extinção como humanidade.
Outro fato inexorável é que o nosso processo de evolução científica e tecnológica é irreversível e isso não tem volta! Somente podemos ir para frente. As descobertas científicas ficaram cada vez mais poderosas em seus efeitos, que podem ser para o bem ou para o mal da humanidade. Não podemos desistir de fazer novas descobertas, pois estaríamos negando “a raça humana”. A curiosidade do ser humano não tem limites, mas a grande questão é: Como utilizamos as descobertas científicas?
Não apenas na questão tecnológica, estamos numa espécie de beco sem saída. Também na questão social parece não haver soluções. Pois o abismo entre os ricos e os pobres se aprofunda cada vez mais.
Na questão social, quanto mais afluente se torna uma sociedade com base nos paradigmas de reconhecimento das pessoas orientados para o Ter e não pelo Ser, mais se realça no horizonte social a sensação de que cada um de nós nos sentimos como um extra-terrestre em nossa própria cidade ou em nosso próprio mundo.
De que adianta ser detentor de um patrimônio adquirido através de uma vida profissional profícua ou de um empreendimento lucrativo, se não posso usufruir esse patrimônio, tamanha a miséria que me cerca. Se os empregados que fazem a segurança do meu condomínio de luxo ou que servem a mim e a minha família, podem ser vistos como inimigos potenciais, tamanha a diferença sócio-econômica entre a realidade que eles vivem nas suas casas e a realidade na qual eu e a minha família vivemos.
Como na física, toda pressão vai querer sair por algum lugar, a pressão social também. Se ela não for encaminhada, tenderá a se manifestar de alguma forma, isso ocorre quase sempre de forma violenta.
Em nosso país e em muitos paises do terceiro mundo, a concentração de renda chegou a um ponto insuportável. O resultado a olhos vistos é a violência. Os pobres se revoltam cada vez mais contra as injustiças sociais e o resultado é que os ricos nem podem mais andar despreocupados na rua. São obrigados a se trancarem dentro de verdadeiras fortalezas para não serem assaltados ou roubados. A mídia em sua maioria sensacionalista faz de tudo para encorajar ainda mais essa violência com reportagens e filmes onde o valor da vida humana é banalizado ao extremo.
Nas grandes cidades brasileiras a criminalidade e a violência se instalam gerando um clima coletivo de insegurança generalizado, onde o “mal não tem mais cara” onde cada um se sente impotente para resolver as situações de degradação e ameaça ou finge que não as vê.
Essa pressão social com certeza tem muitas explicações alem do desnível social; com certeza ela vai chegar num limite onde podemos ter “a guerra de todos contra todos” e aí, por mais afluente que a sociedade seja para alguns, todos perderão no final.
No que se refere aos aspectos ambientais, se você lembrar de como era a natureza nos locais onde você nasceu, viveu, brincou ou passou a sua infância ou as suas férias e fazer a comparação dessas lembranças da infância com a situação atual desses locais nos dias de hoje: Como você se sente? A nostalgia é grande?
Em que tipo de mundo e ambiente seus filhos e netos irão viver se as coisas continuarem nessa direção? Qual é a responsabilidade do mundo empresarial em relação a essas questões? Qual é sua responsabilidade hoje, no aqui e agora, em relação ao meio ambiente e ao futuro do planeta?
Isso olhando externamente, por outro lado olhando dentro de mim o que encontro?
De que adianta ter sucesso na vida pessoal e profissional, se meu filho é um drogado? Se a minha mulher ou meu marido, já não me ama mais? Se o meu sucesso foi obtido à custa da injustiça, de males irreparáveis causados à natureza, do sofrimento das pessoas que estão ao meu redor ou mesmo de pessoas que não consigo ver seus rostos, mas que de uma forma ou outra tiveram que se sacrificar para que o meu sucesso pudesse ocorrer? Como é isso para você?
Tudo isso sem falar em questões do tipo?
Quantas horas você está trabalhando por dia? Tem tempo para os amigos? Você tem amigos verdadeiros? Como você trabalha com a questão da solidão do poder?
Um executivo para o qual trabalhamos, que fez um grande processo de autodesenvolvimento, certa vez qualificou a sua situação como uma pessoa que sofria da “síndrome do aquário”. Dizia ele: “todo esse poder que me atribuem não é nada. Sinto que vivo numa redoma de vidro. Ouvindo o que as pessoas acham que eu quero ouvir! Eles fingem que são controlados e eu finjo que tenho a situação sobre controle”.
Enquanto não conseguimos romper com os paradigmas materialistas unilaterais, estreitos, não acharemos a saída da situação caótica em que se encontra a humanidade. Daí a emergência de novos paradigmas de liderança que considerem além dos aspectos materiais, também os aspectos psíquicos, sociais e espirituais, que responde em parte a sua pergunta no inicio.

Quais são as resistências a esse tipo de abordagem?

Como muitos dos novos paradigmas que querem emergir transcendem os aspectos físico-sensoriais, eles perdem a credibilidade científica e esbarram na resistência de muitas pessoas que ainda não se despertaram, insistindo em manter as direções apontadas na resposta à pergunta anterior.
São muito comuns expressões do tipo: Isso não é comprovado! Isso é impossível! Isso é charlatanismo! Isso é delírio, o importante é dinheiro no caixa a qualquer custo! Isso é bobagem! Isso é picaretagem!
Essas são as expressões típicas de quem está tomado pelo paradigma materialista. Estas expressões escondem um preconceito que rejeita qualquer idéia que não corresponda ao seu paradigma de ver as situações e o mundo. Romper paradigmas provoca incertezas e inseguranças, e exige coragem. Talvez o primeiro ato de coragem poderia ser a formulação da pergunta: “Por que não?” Perante um novo fenômeno desconhecido anteriormente. É o que propomos no livro.

Por que esse preconceito existe na sua visão?

O que está por traz desse preconceito ou dessa resistência foi causado pelo a atual estágio de consciência do ser humano caracterizado pela consciência racional-lógica. Acho importante dizer que esse é um estágio de consciência atual. Existiram outros anteriores e existiram outros estágios futuros, como mostrados no livro.
Os próximos estágios que se vislumbram podem trazer respostas às questões colocadas anteriormente.  O problema é que estamos acostumados também ao paradigma evolucionário onde acreditamos que eles virão naturalmente. O fato relevante é que não será mais assim.  Os próximos estágios de consciência e de evolução do Planeta só virão se o ser humano conquistá-los a partir de um esforço consciente.
Retomando esse tema de uma outra perspectiva a evolução da consciência humana até os tempos atuais vemos que a consciência racional é baseada no pensamento linear, positivista, lógico. Toda a ciência moderna é baseada na consciência racional e o materialismo é fruto desse pensar racional.
Se olharmos para traz na história da humanidade, veremos que o pensar racional foi uma grande conquista. Através deste pensar conseguimos nos distanciar das forças da natureza, do medo dos deuses e nos tornar seres humanos livres de superstições. Por ouro lado, percebemos que a consciência racional é apenas um estágio da evolução humana, não sendo o seu ponto culminante. Até porque já percebemos também que esse pensar está nos levando a um beco sem saída, como visto anteriormente.
Se olharmos para frente, libertos de preconceitos, poderemos ver que o nosso pensar racional, tão claro e nítido, não passa de uma sombra quando comparado com futuros graus de consciência humana.
Explicando melhor isso: Na essência, os elementos da consciência ou do nosso Pensar Racional-Lógico são: Um objeto provoca uma impressão sobre os nossos sentidos, causando uma sensação, uma imagem ou uma representação mental desse objeto. A partir dessa representação o Eu forma um conceito e o Eu chega à compreensão ou faz um julgamento.
O “Eu” a partir desses elementos absorve a forma, o conceito, faz o julgamento, guarda a imagem e o conceito na memória.
Assim o nosso pensar racional depende dos estímulos do mundo material ou sensorial para ser ativado. Por exemplo, se tenho uma percepção olhando um objeto fora de mim, essa percepção imprime em mim imediatamente uma imagem. Se eu já tiver uma experiência anterior com esse objeto, eu aplico a este objeto um conceito que já tenho dentro de mim, através da minha memória. Então eu digo: “isso é uma casa”, “isso é uma cadeira”, etc. Se eu não tivesse aprendido anteriormente o que é uma casa, ou uma cadeira, eu não poderia denominá-los agora.
No mesmo instante em que eu conceituo o objeto visualizado, o meu sentir é ativado e denomino automaticamente um adjetivo ao objeto: “é uma casa grande, bonita, velha”, etc. Com isso eu expresso a minha relação com o objeto em forma de simpatia ou antipatia.
Percebe-se então que o pensar lógico-racional depende de observações do mundo exterior ou de memórias para ser ativado.  Dessa forma a pessoa se limita apenas ao mundo dos sentidos (conhecimento material), vivendo no âmbito de um mundo limitado, comum, normal.  O que é muito pobre diante do potencial ilimitado que se descortina diante de nós quando conseguimos conciliar matéria e espírito no nosso processo de desenvolvimento individual e coletivo.
A conseqüência do Pensar apenas racional lógico é ele estar acorrentado à matéria física. Com o nosso pensar racional, lógico nunca podemos transpor os limites do mundo físico onde estamos presos em nossa “Jaula Existencial”. Para sair desse paradigma precisamos adquirir uma nova maneira de pensar, independendo das nossas percepções sensoriais.

O  que vem a ser essa jaula existencial?

A imagem a seguir, tenta explicar esse conceito:

Imaginando o ser humano no centro da figura, acima vermos que o limite 1 refere-se ao que acontece à nossa observação do mundo externo. Quando olhamos um objeto externo a nós, estes objetos têm superfícies. Podemos olhar com um microscópio ou telescópio, sempre damos de encontro com novas superfícies que delimitam o nosso espaço de observação. Não conseguimos transpassar as superfícies das coisas materiais, por mais que entremos na essência da matéria, por mais que os nossos equipamentos se sofistiquem, dos mais poderosos microscópios aos mais poderosos telescópios inter e intra-estelares, sempre estaremos tangenciando a superfície das coisas.
O limite 2 refere-se ao mergulho que podemos dar dentro de nosso interior. Fazendo isso damos de encontro com nossos sentimentos em forma de alegrias, dor, sofrimento, medo e coragem, desejo e cobiça, etc. Este mundo interior já não pode ser alcançado com tanta definição e clareza como o mundo externo. O mundo interno abrangido pela nossa consciência encontra o seu limite no espelho da nossa memória. Todas as nossas vivências conscientes são refletidas pela nossa memória e nossa consciência não tem condição de atravessar esse limiar. Não podemos ir além da nossa memória.
O limite 3 é o limite dado pelo portal do nosso nascimento. Não podemos atravessar este portal com a nossa consciência e tudo que podemos dizer a respeito do que há antes da concepção são especulações ou uma questão da fé de cada um. E fé é uma coisa subjetiva.
O Mesmo vale dizer para o limite 4 que é o limite dado pelo portal da morte. Nada podemos dizer de concreto a respeito daquilo que existe além do portal da morte também é uma questão de fé.
Dentro deste espaço claramente delimitado a nossa Jaula Existencial, a nossa ciência materialista pesquisa, a nossa tecnologia constrói, a nossa vida social, cultural e econômica acontece, e a nossa economia opera.
Quando penetramos nas questões existenciais de essências do ser humano, com questões do tipo: De onde vim? Para onde vou? Quem sou? Que sentido tem a existência? Percebemos que as respostas ultrapassam necessariamente aos limites impostos pela nossa consciência racional comum. Quero crer que entendendo o conceito de Jaula Existencial que também ajude a responder a sua pergunta: Por que integrar espiritualidade e trabalho?

No livro o senhor fala em evolução da consciência humana: consciências (imaginativa, inspirativa e intuitiva), o que são e para que servem?

Como já foi dito, o pensar racional-lógico já atingiu o seu auge e nos encalacrou em nossa “Jaula existencial”, a princípio intransponível, mas que pode ser rompida a partir de novos estágios de consciência.
O conhecimento Antroposófico nos ensina que é possível desenvolver uma nova consciência que é independente do pensar cerebral e dos fatos externos que nos leva além do pensar racional-lógico. A antroposofia ela também ensina que esses estágios de consciência futura, só poderão ser desenvolvidos se já tivermos desenvolvido ao máximo a nossa capacidade racional-lógica. Esse paradoxo faz sentido, pois o processo de consciência só é possível quando temos clareza no nosso pensar.
Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, caracteriza os três futuros graus de evolução da consciência em: a consciência imaginativa, a consciência inspirativa, a consciência intuitiva. Devido ao espaço da entrevista e para simplificar vamos resumir esses três estágios de consciência debaixo da expressão “O Pensar do Coração”.
Explicando melhor: uma característica geral dos novos estágios do pensar é que no estágio de consciência atual, só conseguimos ter um pensamento após o outro. É um pensamento linear, no sentido de só podemos ter um pensamento após o outro. Não conseguimos por mais que nos esforcemos ter a consciência de dois pensamento simultâneos. Isso no estágio atual da humanidade, ter pensamentos simultâneos é praticamente impossível e no fundo é a razão de nos enclausurarmos em nossa Jaula Existencial já descrita anteriormente.
Um exemplo dessa capacidade pode ser vista no livro e no filme que conta à biografia do ganhador do prêmio Nobel de Economia John Forbes Nash Jr. A passagem referida pode ser vista no filme “Uma mente brilhante”, do diretor Ron Haward e no livro “Uma mente brilhante” da Editora Record.
O Pensar do coração, no futuro, incorporará uma outra qualidade ao nosso pensar que é a qualidade de pensarmos em círculos, ou de termos a capacidade de sobrepor pensamentos com consciência. Podemos dizer que nesse tipo de pensamento os fatos estão ao redor do Eu em círculos e não linearmente, tendo o Eu então a possibilidade de, num relance percebê-los simultaneamente e formular juízos ou julgamentos a partir disso.
Para o entendimento adequado dos conceitos que virão a seguir é importante destacar que Pensar do Coração não é colocar as emoções no pensamento ou na ação.
As qualidades que diferenciam um pensar do outro são as seguintes: o Pensar do Coração é: supralógico, qualitativo, fluido, etérico, artístico, vivo, ativo, criativo, pensar imaginativo, linguagem do Cristo, e (novo testamento). Enquanto que o Pensar do Cérebro (Racional - lógico) é: lógico,     quantitativo, sólido, físico, científico, morto, passivo, contemplativo, pensar racional e a linguagem de Jeová, e (velho testamento).
Sabemos que todo processo de desenvolvimento não é homogêneo. Em qualquer cultura ou situação existem sempre aqueles seres humanos que se antecipam aos outros.  São os adiantados da classe, pessoas que demonstram essas qualidades do pensar do futuro, não acompanhando a grande massa.  Aqui estamos falando dos grandes gênios da humanidade, tanto na esfera política, militar, científica, religiosa ou artística que são reconhecidos como verdadeiros gênios ou lideranças carismáticas. Pense num Bethoven ou num Mozart que compunham operas aos 8 anos de idade. Num Einstein que desenvolveu a teoria da relatividade aos 24 anos apesar de ser considerado inábil pelo seu professor de matemática do curso primário, ou de um Ghandi que fez a libertação de um país a partir de uma estratégia incomum, ou de Jesus, Buda ou Maomé para ficarmos apenas com alguns exemplos.

Mas o que esse pensar do coração significa?

Como disse a expressão Pensar do Coração é uma síntese desses três conceitos ou estágios de consciência que significam o seguinte: Imaginação é a capacidade de enxergar o invisível através do fortalecimento do pensar, Inspiração é a capacidade de ouvir o inaudível através do fortalecimento do sentir, Intuição é a capacidade de saber fazer o certo através do fortalecimento do querer.
O verdadeiro líder pode usar todos os métodos científicos necessários para analisar a situação e fazer projeções, mas na hora da decisão final ele busca a resposta de dentro de si. Ele ouve a si mesmo. Isso é o novo!
Acontece que geralmente esse Líder não tem consciência destas faculdades que ele possui de uma maneira mais ou menos rudimentar. O novo também é que essas faculdades podem ser desenvolvidas conscientemente através de um caminho interior de autodesenvolvimento.
Em nosso dia-a-dia, também existem pessoas, que são como os alunos avançados da classe dos seres humanos no desenvolvimento da consciência. São aquelas pessoas que fazem a passagem dos limiares da “Jaula Existencial” de forma consciente. Ou melhor, dizendo, muitas pessoas do nosso tempo podem desenvolver essas características que os colocará num novo referencial de liderança. O que chamamos no novo livro de liderança espiritualizada.

O que é liderança espiritualizada?

A liderança baseada na espiritualidade é uma liderança calcada em preceitos éticos e morais elevados. Por que o mundo espiritual e o mundo moral são sinônimos. É o que reconhecemos em todas as tradições espirituais da humanidade.
Isso quer dizer que qualquer decisão ou ação de pessoas que ocupam posições de liderança deve obedecer a critérios éticos – morais elevados, para que possam fazer diferença no mundo físico e no mundo espiritual.
É importante alertar que quem chegou até esse ponto da entrevistas, que ao discorrer sobre esse tema andamos num terreno muito difícil, pois as tentações e valores que orientam o mundo dos negócios sempre colocam nos frente a frente ao que é ético e ao que não é ético, entre o que é moral e o que é imoral.
As Enros e as Parmalats da vida são apenas algum dos exemplos de escândalos morais e éticos que chegaram à mídia recentemente.

Como saber se as minhas decisões ou ações são éticas?

O que temos constatado ao longo da nossa trajetória pessoal e profissional, trabalhando com líderes empresariais diferenciados descobrimos que a maneira de checarmos se as nossas ações ou omissões como líderes atendem ao critério ético-moral é a resposta a uma pergunta simples.
Essa pergunta é: Esta decisão ou ação contribui para a evolução do ser humano e da humanidade?
Evolução aqui deve ser entendida como a direção da evolução da consciência humana para os níveis que chamamos de consciência imaginatva, inspirativa e intuitiva, ou o para o Pensar do coração como falamos há pouco.
Se ela prejudica essa evolução de alguma forma, reforçando o paradigma materialista que nos encalacra em nossa “Jaula Existencial” ela não é ética na sua essência.
A resposta que nós damos á questão acima depende do grau de consciência e da posição pessoal que nós temos em relação ao processo de evolução do ser humano.  Isso de um lado, de outro lado depende também da disposição interior que temos com relação à evolução como um todo. Para isso temos de nos enfrentar com outras questões do tipo: Qual é meu papel neste mundo? Como quero ser lembrado? Tenho algo a contribuir para a evolução ou sou apenas mais um habitante neste planeta que procura egoisticamente sobreviver, não interessando o que vem depois de mim? O que significa para mim: Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Sou mobilizado para a verdade, a bondade e a beleza?
Os verdadeiros líderes se preocupam com questões dessa natureza, porque sabem que contribuem para a evolução, caso contrário não são lideres.
Podem ser sedutores, impostores, usurpadores, oportunistas, manipuladores etc. O verdadeiro líder anda na frente dos demais abrindo caminhos para a evolução, criando a visão do futuro, agarrando oportunidades, enfrentando desafios, estimulando os seguidores e não seguidores ao crescimento e a contribuir positivamente para a evolução das pessoas, dos grupos, das empresas, da comunidade, do pais, da humanidade e do planeta.
Para isso é necessário optar conscientemente por um caminho de desenvolvimento interior.

O que é recomendado para um caminho de desenvolvimento como o senhor fala?

Basicamente o caminho interior do desenvolvimento do Líder espiritualizado passa pelos seguintes aspectos: Fortalecer o pensar para compreender os fenômenos do mundo. Fortalecer o sentir para julgar com certeza o que é justo. Fortalecer o querer para interferir com coragem na vida.
È importante mais uma vez, que se ressalte que quando falamos de liderança espiritualizada ou do caminho interior do Líder, que isso não tem nada a ver com misticismo e o flutuar numa volúpia espiritual, mas sim num caminho consciente de auto-educação, autodesenvolvimento e autocondução a partir da própria essência espiritual de cada um.
Quais são as condições para um desenvolvimento interior?
A condição básica para um caminho interior é o cultivo de um sentimento de devoção. Devoção perante a verdade, a sabedoria, a vida. Quem teve a sorte de poder cultivar este sentimento quando criança tem uma enorme vantagem sobre quem não teve esta sorte.
Vivemos numa época em que as possibilidades para cultivar o sentimento de devoção são cada vez mais difíceis de serem encontradas.  A nossa época atual dá muito mais ênfase para a crítica e o julgamento negativo do que para o cultivo de um sentimento de devoção. As aulas de ecologia nas escolas podem resgatar o sentimento de devoção perante a sabedoria existente na natureza, por exemplo.
Espiritualmente, podemos afirmar que quanto mais eu consigo me aprofundar no sentimento da devoção tanto mais eu consigo erguer a minha cabeça acima das mazelas da vida diária e me colocar a caminho da integração espírito-matéria.
O sentimento de devoção perante a verdade, a bondade, a beleza, o conhecimento, a natureza, a criação e perante a divindade é alimento para a alma, assim como os elementos naturais o são para o nosso corpo.
Uma outra condição básica para qualquer processo de auto desenvolvimento espiritual é a calma interior.
Criar diariamente alguns momentos de silêncio interior, onde tentamos diferenciar o importante do corriqueiro. Esses são os momentos onde podemos conscientemente olhar para o nosso pensar, sentir e querer como uma pessoa estranha a nós mesmos. Onde podemos nos distanciar de nos mesmos e observar-nos com nossos prazeres, sofrimentos, preocupações, experiências e ações.
Quem consegue se autodisciplinar para essa prática percebe um poderoso efeito positivo no sentido de uma maior certeza interior de condução da vida e das situações do dia-a-dia.
Esse hábito, não precisa levar mais do que 5 a 10 minutos por dia. Nesse tipo de exercício, o importante é a regularidade. Após algumas semanas já sentiremos uma grande transformação interior. A nossa maneira de se comportar e de agir se torna mais calma e mais segura. Imprevistos já não conseguem mais nos atropelar interiormente. Seremos conduzidos cada vez mais por nos mesmos e cada vez menos pelas circunstâncias externas.
Outra condição para o líder ou qualquer pessoa que queira aprender a liderar a si próprio e iniciar um processo consciente de libertação e emancipação que o coloque em direção ao processo de desenvolvimento imaginativo, inspiriativo e intuitivo, deve reconhecer que esse é uma caminho interior que só ele pode fazer por si. Ele precisa ter a coragem de descer ao porão da sua alma. 
Para ajudar na descida ao porão e enfrentar as nossas sombras de maneira segura e produtiva existem 6 exercícios, que devem anteceder a introdução do habito de meditar, são eles: O Controle dos Pensamentos, o Domínio da Vontade, a Serenidade, a Positividade, a Receptividade Imparcial e o Equilíbrio.

Porque meditar e quais são os efeitos da meditação ou desses exercícios propostos?

No fundo o próprio nome dos exercícios citados, são qualidades espirituais da liderança diferenciadora ou espiritualizada.
Os efeitos percebidos são os seguintes, ao praticá-los: evitar pensamentos ilógicos aprendemos que tudo que fazemos depende de algo impulsionado por algo externo e que o nosso “eu é fraco”. Evita-se desarmonia no agir, desenvolve-se maior percepção consciente do efeito dos nossos atos, o desenvolvimento da força do pensamento e da vontade, o desenvolvimento de timing para a ação certa, libertamo-nos da antipatia-simpatia, não nos deixando levar por essas polaridades nos assuntos do dia-a-dia. Aprendemos a estar acima do bem e do mal em toda e qualquer situação. Tornarmos-nos donos do nosso sentimento, não enxergando, julgando e criticando apenas o negativo quando o positivo, o belo, o verdadeiro também existe. Para se aceitar opiniões contrárias, fortificar a fé nas situações complicadas. Não ter medo do desconhecido. Aceitação do novo e o que não se entende. Aprender a não ver as coisas sempre de um mesmo ângulo, libertar-nos da ditadura das experiências do passado, desenvolver o “espírito da criança” ou de pureza e desenvolver o juízo certo.
Outros efeitos gerais desenvolvidos pela meditação, observado em pessoas que tem longa prática: Desenvolvimento da “a presença de espírito”, do fortalecimento do caráter, da serenidade, da objetividade para as coisas da vida, do genuíno interesse, da compreensão para fatos novos, da capacidade de concentração, da segurança interior para se atingir novos níveis de consciência, da palavra certa, da perseverança.
Desenvolve-se a habilidade para falar para o coração e não para o intelecto das pessoas, nos tornarmos conscientemente donos dos nossos pensamentos, sentimentos e da nossa vontade. Desenvolve-se também a harmonia e paz interior.

Quais são os requisitos para a meditação?

Ter um local adequado. Não precisa ser um altar ou coisa parecida, estamos falando aqui de um local, onde você não seja interrompido, durante um certo período do dia, pode ser na sua casa ou no seu escritório. Definir um horário adequado. O melhor horário é pela manhã ou duas vezes ao longo do dia. Regularidade: diária como se fosse um hábito novo. Iniciar, buscando a calma interior: sentar-se de forma ereta, concentrar-se na respiração, fechar os olhos ou não. Geralmente quando ficamos de olhos abertos nos desconcentramos, mas se você conseguir se concentrar com os olhos abertos é o ideal, pois muitas pessoas quando fecham os olhos viajam literalmente.
Quais são os riscos da meditação?
Há um risco imanente ao se fazer esse caminho de desenvolvimento interior. Muitas pessoas ao fazerem essa viagem acabaram fazendo um desserviço a si próprios, para os outros e para a causa da evolução, ficando pelo caminho. Os sintomas de queda no caminho são: confusão no pensar, ambições, orgulho, arrogância, prepotência, apego, egocentrismo, superstição, misticismo, fala excessiva, negligência, delírios, perda do senso de realidade, ilusões, obsessões, excesso de sensualidade, mal humor e a perda do sentimento da devoção e a desumanidade.
Os exercícios propostos inicialmente funcionam como uma blindagem ou proteção a esses riscos, que pela sua natureza, são gravíssimos uma vez que encalacram as pessoas mais e mais na “Jaula existencial”. Voltamos a lembrar que pessoas que ocupam cargos de liderança têm uma responsabilidade redobrada, por que são imitados por outras pessoas que estão ao seu redor.
Líderes que perseguem esses atributos com consciência chegam às decisões com confiança. São intuitivos sem esquecer a razão. São capazes de conviver com conflitos, lidar confortavelmente com paradoxos e com os aspectos intangíveis que se apresentam em todas as situações. Aceitam o que não pode ser compreendido ou controlado. Aceitam e trabalham com as contingências de forma objetiva e aceitam também o fato de que um ser humano não recebe de presente, e nem tem inato, suficiente discernimento para conciliar seus valores pessoais com as práticas da vida empresarial.

Mas fazer tudo isso não é muito difícil?

É! Como seres humanos podemos melhorar porque somos imperfeitos. Em termos espirituais, essa é a grande aventura? A aventura definitiva diria eu. O importante a fazer é tentar sempre.  Tentar, mesmo sabendo que muitas vezes perceberá que seus ideais e esperanças não poderão ser atingidos, mas que a vida sem essas âncoras é uma vida vazia, sem sentido nem objetivo; e que um dia, ao se aproximar a morte e se perguntar: O que eu deixarei para esse mundo? Ou, Como serei lembrado? Possa estar em paz ao concluir que valeu a pena ter feito o que fez em todos as áreas da sua vida pessoal e profissional.
Esse conjunto de atributos, fruto de uma filosofia pessoal de vida e de um sistema de valores reais, não pode ser encarado como mais um item da agenda para o dia seguinte, como se fosse uma reunião importante e nem ser visto como a garantia de resultados materiais, mas deve ser encarado como um compromisso com a sua essência como ser humano.
No caminho do desenvolvimento da Liderança Espiritualizada, provavelmente, salvo uma ou outra exceção, não seremos clarividentes nem iniciados. O importante não é o resultado, mas sim o processo. O esforço que dispensamos para caminhar nesta direção torna a nossa alma mais acordada, mais presente e com uma visão ampliada, pois aquelas faculdades que o verdadeiro líder tem de uma maneira rudimentar e que denominamos como imaginação, inspiração e intuição se tornarão cada vez mais acentuadas e isso será um resultado muito alvissareiro.
Porém o importante ao nos mobilizarmos para o desenvolvimento de uma liderança espiritualizada, que não o focamos, visando interesses pessoais, pois isso nos faria derrapar para a magia negra com conseqüências nefastas em todos os sentidos.
Trabalhando no sentido de melhorar o mundo, esquecendo um pouco nós mesmos, nos tornará verdadeiros líderes, fazendo a diferença não só para as organizações que nos abriga, como para as pessoas que o destino colocou em nosso caminho na vida e para a evolução futura da humanidade.


http://www.adigo.com.br/br/artigos.asp?mode=show&ID=88

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