domingo, 30 de dezembro de 2012

Ética, essência da liderança


13/09/2011 - “Patrícia, de 47 anos, era conhecida por uma atuação dura como juíza. Era rigorosa na hora de inquirir os réus e dava celeridade aos processos. Por princípio, considerava o crime cometido por um policial durante o serviço mais grave que o praticado por um cidadão comum.” Acostumados que estamos a acompanhar os fracassos, a morosidade e a complacência do nosso sistema judiciário, ler o parágrafo acima “lavaria a alma” da maioria dos brasileiros que clamam por ética, por justiça e por um passa fora definitivo à corrupção. Infelizmente, no entanto, o texto foi dramaticamente aumentado. 


Vejamos: “Patricia Acioli, de 47 anos, brutalmente assassinada quando retornava para sua casa em Niterói (RJ), era conhecida por uma atuação dura contra a ação de grupos de extermínio na região de São Gonçalo, onde era juíza na 4ª Vara Criminal desde 1999. Era rigorosa na hora de inquirir os réus e dava celeridade aos processos e, por princípio, considerava o crime cometido por um policial durante o serviço mais grave que o praticado por um cidadão comum.

Recentemente, havia prendido quatro milicianos e o maior bicheiro de São Gonçalo. Estava na lista negra de um chefe de um grupo de extermínio...” Apesar da tristeza que uma situação desta gera, especialmente para os familiares, é inquestionável que o comportamento profissional de Patrícia não deveria ter sido outro, ainda que para não colocar sua vida em risco. Ela foi impecável! Os outros é que parecem não ter sido. Tomara ao menos haja justiça para honrá-la! Tal fato é curioso e surpreendente, pois mesmo entre várias pessoas corretas e de bem que conheço não é raro escutarmos comentários do tipo: “Está vendo só, não adianta, quer ser mais realista que o rei, paga com a vida!”.

Frágil. Abrir mão da ética e de princípios para evitar problemas é um argumento tão consistente, na minha opinião, quanto dizer que você deve arrancar todos os dentes para não ter dor de dente nem ter de pagar a conta do dentista! No cotidiano corporativo, muita gente é “alvejada”, “metralhada”, “eliminada” no exercício de suas funções porque é exigente, “não dá mole”, não é conivente, não participa de “panelinhas”, mas é uma opção de vida pessoal e profissional a retidão! E posso garantir que ela hoje tem muito valor no mercado de trabalho. Em qualquer carreira, seja na esfera pública ou privada, ter uma atuação pautada por princípios éticos e valor e sé a base para uma carreira bem sucedida e sustentável. Talvez aí esteja a essência da liderança, pois a busca da liderança é, inicialmente, uma busca interior para descobrir quem você é. Líderes são pessoas intradeterninadas, orientadas pelos seus próprios valores e ideais, que frequentemente agem em rompimento com a situação, na direção de alcançar seus objetivos. Filosófico demais? Nem tanto...

Uma rápida passada de olhos pela programação preliminar do Seminário de Liderança de Aspen que ocorrerá neste mês no The Aspen Institute, Estados Unidos, um centro de excelência de classe mundial, pode dar uma dimensão da importância da filosofia e das humanidades na formação de executivos. Será uma semana inteira com uma árdua agenda de leituras, discussões e reflexões que inclui, entre outros autores: Aristóteles, Thomas Hobbes, Charles Darwin, Jean Jacques Rousseau, John Locke, Simón Bolívar, Simone de Beauvoir, Martin Luther King, Jr., Alexis de Tocqueville, Niccolò Machiavelli e Platão. Talvez isso ajude a explicar a razão pela qual empresários americanos e europeus estão propondo que eles próprios paguem mais impostos para colaborar com a superação da crise em seus países. Talvez... A eficácia do líder repousa em sua habilidade de tornar as atividades significativas para aqueles que as executam.

Para que as pessoas se engajem com outras de tal forma que líderes e seguidores elevem uma o outro a níveis mais altos de motivação e de moral, é crucial que estejam alinhadas por valores e princípios sólidos. Enfim, não é abrindo mão de valores e princípios que formaremos líderes e construiremos uma carreira sólida e uma sociedade melhor. Ao contrário: eles são essenciais para moldar o caráter, que permitirá que atuemos como cidadãos preocupados não só com o bem-estar individual, mas como coletivo também! Este foi o verdadeiro exercício de cidadania da juíza Patrícia Acioli.

MARISA ÉBOLI - ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO CORPORATIVA, É PROFESSORA DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FEA/USP) E DA FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO (FIA)

Fonte: O Estado de São Paulo
Fonte: http://www.cmconsultoria.com.br/vercmnews.php?codigo=53126

Nenhum comentário:

Postar um comentário