sábado, 1 de setembro de 2012

A questão do significado na educação corporativa




“Aquilo que na vida tem sentido, mesmo sendo qualquer coisa de mínimo, prima sobre algo de grande, porém isento de sentido”.
Carl Gustav Jung
Hoje quero começar apresentando duas cenas:
 
CENA 1: Numa pequena escola do Interior, crianças de quase dez anos esperam a ajuda dos ponteiros do relógio para que chegue logo a hora da merenda. Pelo menos nessa hora, eles abrirão seus sorrisinhos amarelos e terão razões para ensaiar qualquer alegria. E olha que a merenda tão esperada do dia é biscoito com suco de groselha. Enquanto não chega a hora, o esforço da professora, falando e falando sem parar, não é suficiente para dissipar o desânimo e a languidez estampados em quase todos os rostos. Não que seja falta de esforço da Tia Graça, mas ela aprendeu a ensinar dessa forma.

CENA 2: Na fábrica, vários empregados reunidos numa salinha quente, aos fundos do galpão, aguardam inquietos o fim do treinamento ministrado pelo supervisor para irem para casa. Na pauta do dia, procedimentos técnicos para manutenção das máquinas e novos formulários que deverão ser preenchidos. Alguém deve estar se perguntando: “sempre isso! Será que não pode melhorar?” E o Sebastião, supervisor boa gente e de muito boa vontade, faz sua parte. Convoca a todos com cortesia, se esforça para despertar algum interesse e, durante os treinamentos, faz perguntas e tenta animar a turma, mas ele também não entende o porquê do resultado ser sempre o mesmo. Ele também aprendeu a ensinar assim.

Dois cenários distintos, com realidades bem semelhantes. O que você acha que, além das questões estruturais, impacta diretamente nos resultados desses processos educacionais apresentados nas cenas? Chego, aqui, ao ponto que quero discutir hoje e conhecer a opinião de todos. A questão do significado na educação.

Numa empresa, em que as exigências por agilidade e melhores resultados marcam a dinâmica do cotidiano, essa questão torna-se crucial. Em uma primeira análise, qual o significado para a estratégia empresarial de se investir em educação? Outra análise remete a outra pergunta: qual o significado para o colaborador em participar de ações de educação que, na sua concepção, são maçantes ou não acrescentam nada? É possível, ainda, se fazer outras tantas perguntas e, aí, iniciar um processo de busca por significados.

Esta última vertente de pensamento, inclusive, é bem interessante, quando consideramos que a chave do interesse do homem por conhecimento está exatamente no ato de perguntar. Charles Silberman fez uma observação muito instigante, quando afirmou que a educação tem sofrido há muito tempo por haver excessivas respostas e poucas perguntas. Será que mora aí o segredo? Os processos educacionais estariam baseados demais em modelos engessados e formatos baseados na entrega das respostas, ao invés de instigar a formulação das perguntas?

Uma das marcas da educação nas empresas, que difere um pouco da educação formal nas escolas, é o fato de haver indivíduos com diferentes níveis de preparo e, consequentemente, diferentes níveis de interesse. E essa diferença entre preparo e interesse se explica pelas faixas etárias também diferentes, o que traz, para a cena educacional, compreensões particulares do significado da própria vida. Cada fase e nível de experiência na vida impactam nessa compreensão acerca do mundo. A maturidade psicológica está mais associada às fases mais adultas, mas nem todos a atingem tão facilmente.

E no planejamento educacional, seja numa empresa ou em outra instância, isso deve ser levado em conta como fator norteador de abordagens, aplicação ou não de determinados recursos, linguagem e ferramentas. A apropriação da máxima do ensinar aprendendo nunca foi tão propícia ao texto como aqui. E ao fazermos tantas perguntas em todas as fases de um planejamento educacional, vamos percebendo que as respostas, por muitas vezes, estão mesmo no outro. Na surpresa do responder do outro, inusitadamente, com uma clareza que nos espanta e arrebata. E só é arrebatado aquele que se despe de preconceitos e certezas do saber tudo.

Começa aí a produção de significado. Quando o condutor, aqui entendido como o intermediário do conhecimento (e não mais um emissor estático), percebe que é preciso ter significado para todos, o processo se dará de forma diferente. Quem compartilha conhecimento, contribui significativamente para a vida daqueles com quem compartilha. Pode ser que o resultado não seja sentido de imediato, mas no futuro certamente será. Essa é uma verdade que, por si, já gera significado.

O processo de sensibilização dos indivíduos numa empresa para a percepção de significados nas ações de educação não é nada fácil. Ele extrapola uma simples convocação. A quebra de costumes ou modelos já enraizados requer um esforço tremendo e dedicação constante daqueles que se dispõem ao ato de educar, nas suas mais diversas formas.

É mais do que simplesmente se preocupar com conteúdos ou em como aplicar metodologias que tornem esses conteúdos mais críticos. Esse é, sim, um passo importante, por mais técnico ou até enfadonho que pareça o tema. Aproximar o que se compartilha da realidade onde esse conhecimento será aplicado gera também significado. Mas, além disso, é preciso entender que, concomitante ao aperfeiçoamento de competências, há que se ofertar outros aprendizados simultâneos, outras possibilidades de pensamento e expressão que agreguem novos significados ao processo e à vida.

Outra questão que vejo como crítica é o excessivo ludicismo da educação como forma de justificar a aplicação da andragogia na educação empresarial. Um estudo simples de perfis profissionais irá apontar que há vários grupos de indivíduos que não percebem significado por essa via. Ter essa sensibilidade no planejamento também é essencial. A busca do equilíbrio deve fazer parte de todo o trabalho em educação corporativa, considerando também os diferentes perfis de aprendizado.

Penso que, mesmo numa empresa, em que a educação estratégica deve estar focada nas competências essenciais para o sucesso dos negócios, é urgente e necessário que se tenha uma abordagem humanizada, centrada nas necessidades de significado dos colaboradores. Essas oportunidades de desenvolvimento podem vir a ser novos meios para que os indivíduos compreendam a organização, saibam questionar e interferir positivamente para as transformações, conscientes da ação e dos resultados.

O grande desafio, além da geração de significado, é esse equilíbrio entre as exigências técnicas de cada profissão e a necessidade de uma formação humanística, que prepare cada indivíduo para se relacionar com os outros, nos mais diferentes cenários.

O que você pensa sobre isso? Para você, o que gera significado na educação corporativa? O que é preciso mudar nas práticas para que os resultados sejam melhores? Opine!

Até o próximo!
Ubirajara Neiva
Gestor de Educação Corporativa

SILBERMAN, Charles. Crisis in the Classroom. New York, p. 11.

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