quarta-feira, 20 de junho de 2012

FALANDO SOBRE NETWORKING


FALANDO SOBRE NETWORKING COM JOSÉ AUGUSTO MINARELLI

por Inês Martins
Súmula
11/10/2007 Em entrevista realizada com José Augusto Minarelli para a newsletter da ABOP o autor do livro“Networking – Como utilizar a rede de relacionamentos na vida e na carreira” (Ed. Gente) e presidente da Lens & Minarelli, consultoria em outplacement e aconselhamento de carreira, falou sobre o conceito de networking.
Como podemos definir o networking? 
É um conjunto de princípios e procedimentos ligados à criação, manutenção e utilização da rede de relacionamentos em todos os assuntos da vida e não apenas exclusivamente de aplicação profissional. Ele mostra a importância do relacionamento com as pessoas com as quais a gente cria vínculos, a partir de afinidades, descobertas em encontros e diálogos. Essas afinidades aproximam as pessoas desde que elas estejam dispostas a cultivar, reciprocamente, esse relacionamento. O grande benefício donetworking é que ao estar conectado a outras pessoas podemos nos beneficiar de conhecimento, informações, oportunidades, ligações daquela pessoa. E o mesmo com relação ao que podemos dar aos outros. É importante conhecermos e sermos conhecidos e criar vínculos a partir de alguns interesses, mas sem sermos interesseiros.
Como assim? 
Uma das críticas que fazem ao networking é que as pessoas se aproximam uma das outras por interesse. Na realidade, a gente se aproxima por interesse, mas se as exploramos passamos a ser interesseiros e isso não é networtking; isso é falta de educação, falta de educação, selvageria. 
Qual é o princípio então do networking
Quando a gente conhece uma pessoa, descobre afinidades profissionais, de crenças, de origem, de experiências, de histórias de vida. Networking é trabalhar com a rede de relacionamentos para criar vínculos; mas não basta conhecer é preciso cultivar o relacionamento em uma perspectiva de longo prazo, sabendo que é uma via de duas mãos. Hoje eu posso precisar de você, amanhã você pode precisar de mim. 
Mas isso não é interesseiro? 
Interesseiro é quando eu me aproximo de você para te explorar visando beneficiar meus negócios. Um interesseiro explora unilateralmente. Networking é convivência, que nas cidades pequenas, nas famílias, era uma coisa natural. O conceito então veio lembrar a importância da convivência, que é a essência da vida em comunidade, à importância dos relacionamentos pessoais para todos os assuntos da vida. Sempre insisto muito que networking diz respeito aos aspectos da vida e da carreira.   
E o que não é networking? 
Utilizar o conceito para entregar currículos, para vender alguma coisa e explorar o próximo. Também não ficar entregando cartões e pegando cartões dos outros. O cartão de visita é uma decorrência de um diálogo que gera interesse, simpatia e confiança entre as pessoas. O cartão traz os meios de acesso para continuar o relacionamento e manter o vínculo. O networking legítimo se caracteriza por uma atitude que valoriza as pessoas que a gente conhece; isso não significa conhecer só pessoas ricas, poderosas, influentes, mas pessoas que tenham alguma coisa que nos chame atenção, que tenha algo com que nos sentimos identificados. 
O político não é alguém que tende a praticar o networking? 
Com algumas pessoas sim, com outras ele pratica um relacionamento interesseiro porque ele quer o voto. Normalmente um networking sadio é uma relação de amizade que começa por interesse como começa, por exemplo, o namoro, a prospecção de negócios. Tem que se aproximar, tem que conversar, tem que falar de você, perguntar do outro, interagir. Temos que entender que isso é importante para todo mundo. Hoje você pode precisar de uma pessoa e vice-versa. 
Quais são as habilidades necessárias a um bom networking? 
A primeira é a educação. Uma pessoa educada pratica networking de uma forma elegante, civilizada e respeitosa. Ou seja, invadir o tempo e a privacidade do outro em nome do conhecimento ou amizade não é networking. É preciso também ter habilidade de comunicação, de falar e ouvir. Há quem ache que networking é falar de si o tempo todo, ocupar todo o espaço do diálogo do interlocutor, por isso quero destacar a importância do ouvir. Como o networking é uma via de duas mãos, que aproxima pessoas que têm interesse entre si, é muito importante conhecer o outro e ser conhecido pelo outro; daí a necessidade de um diálogo equilibrado em que você fala e ouve. Quando a gente troca informações, você dá e recebe, conectando dois universos. O mágico donetworking é que gradativamente você vai unindo o seu universo com outra pessoa que também é um universo e enriquecendo este processo.  É uma oportunidade de ensinar e aprender, pedir ajuda e dar ajuda. Ao ter a habilidade de prestar atenção é interessante poder captar detalhes para aprofundar a relação naquele momento ou em outro dia. Eu costumo recomendar que somente depois de conhecer uma pessoa e achar que vale a pena cultivar o relacionamento, vale a pena trocar o cartão de visita. Costumo recomendar também que você deve utilizar o verso desse cartão para marcar o dia, o mês e o ano em que houve o primeiro contato, local ou evento onde houve o encontro, enfim, todas as informações que você julgar pertinentes para lembrar da pessoa, profissão, características físicas, se tem ou filho ou não, cidade natal, etc, síntese que lhe auxiliará a fazer com que a próxima conversa não fique vazia. Lembre-se, cultivar requer trabalho e tempo. Por isso, não dá para cultivar relacionamento com todo o mundo que você conhece daí a necessidade de um critério qualitativo. É preciso eleger aquelas que são merecedoras da sua atenção. É como se você classificasse intencionalmente em A, B e C; A te interessa bastante, B menos e C um pouco menos. E aí você arruma tempo para se relacionar com as pessoas dando prioridade para aquelas A
Desde quando o Sr. se deu conta de que o networking era importante para o desenvolvimento de carreira? 
Eu trabalho com aconselhamento de carreiras há 25 anos, desde que fundei a Lens & Minarelli, para auxiliar executivos a encontrar um novo trabalho depois de uma demissão. E desde o início eu notei que as pessoas que têm relacionamentos e crédito com as pessoas com as quais se relacionam, têm facilidade de obter informações, indicações, convites. A maior parte das oportunidades vem dessa rede de relacionamento, principalmente porque nesses anos todos houve um desequilíbrio entre a oferta e procura de empregos. A gente sempre se lembra de quem conhece e confia ou de quem é indicado por quem você conhece e confia; conhecimento e confiança andam juntos. Por isso não podemos ser interesseiros, ninguém gosta de ser explorado, se a gente descobre um amigo de ‘conveniência’ corta as relações. 
Como é o que Sr. vê a evolução do conceito de networking para netliving? 
Olha, eu escrevi no livro dizendo que deveríamos evoluir de networking para netlliving para fugir dessa marca de que networking é uma técnica de procurar empregos ou contratos, ou seja, exclusivamente profissional. Eu acho que existe um empobrecimento do conceito. O networking não é inovação, é uma redescoberta da vida em sociedade onde as pessoas que têm vínculos são solidárias entre si, amistosas, colaboradoras, trocam favores entre si, têm interesses em comum, procuram o bem-estar uma das outras. É a redescoberta do valor da vida em comunidade. O conceito denetliving, sugerido por mim, vem sendo muito pouco utilizado, não “colou” muito, poucas pessoas replicaram. Se a gente entender que networking é para qualquer aplicação em qualquer assunto humano ou de vida, já estamos praticando o netliving.  A idéia era dar um sentido mais amplo, mas o melhor é ficar mesmo com o networking lembrando que o conceito não pode ser resumido à procura de emprego. 
Quais são as regras básicas para praticar um bom networking no dia-a-dia? 
Esse é um bom aspecto. As pessoas só se lembram da importância da rede quando têm problemas. E aí tentam correr atrás do tempo perdido. Se você incorpora o networking  como uma atitude que valoriza as pessoas, onde quer que você esteja você aproveita para conversar, para trocar cartão de visitas. Se fizer isso sempre, todo dia você vai gastar um tempo, mas também poderá cultivar uma boa rede de relacionamentos. 
Dicas para um bom networking 
·          Cultive os relacionamentos para não perdê-los; 
·          Lembre-se das pessoas quando você não precisa delas, para ter acesso quando precisar;
·          Conte e pergunte o que está acontecendo; 
·          Tenha cartões de visita, mas troque somente depois de uma prosa; 
·          Anote no verso dos cartões dados sobre as pessoas e sobre a conversa que teve com elas; 
·           Atenda as pessoas da sua rede quando elas procurarem; 
·          Respeite os limites dos outros; 
·          De vez em quando, procure encontrar-se ao vivo, para evitar o contato apenas por e-mail ou telefone; 
·          Registre todos os dados dos seus relacionamentos numa espécie de “conta corrente de capital social”, afinal os relacionamentos, em alguns casos, valem muito mais que dinheiro e constituem um bem de valor. Vale agenda, palm top, computador para fazer o banco de dados da sua rede; 
·          Guarde os cartões para não perder o back-up. 
O que não se deve fazer
=        Não adianta distribuir cartões antes de conversar; 
=        Não ocupe todo o tempo falando de si mesmo; 
=        Só se lembrar dos outros quando precisa; 
=        Dar trabalho para os amigos. Peça apenas as coisas que você precisa para você mesmo fazer o trabalho. 
Lembre-se da técnica C.O.I.S.A: peça Conselhos, Orientações, Informações, Sugestões e obtenha uma decorrência dessa abordagem indireta, ou seja, Apresentações espontâneas ou provocadas, de contatos profissionais ou ajuda. 
FRASE: “A conta corrente de capital social, entre aspas, inspira-se no conceito de registrar as coisas valiosas que você tem para você poder localizá-las quando precisar e quando convier”.

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