sábado, 10 de dezembro de 2011

Como fortalecer a confiança no meio corporativo?

Como fortalecer a confiança no meio corporativo?
Por Patrícia Bispo para o RH.com.br 


Confiança - uma palavra que para a maioria das pessoas representa a base para todo tipo de relação, seja no campo profissional ou pessoal. Mas conquistar a confiança de alguém, de um grupo de pessoas ou de uma empresa não é algo que ocorre do dia para a noite, mas se forma a partir da vivência, dos comportamentos apresentados pelo indivíduo e outros fatores que surgem a cada dia. Esse é um assunto delicado, porque a princípio todos se dizem dignos de merecer a confiança de quem está do outro lado. Ao contrário do que muitos possam imaginar, esse é um assunto que tem conseguido, cada vez mais, espaço no ambiente organizacional.
Mas, o que leva as empresas a darem atenção especial a esse assunto? A resposta pode ser encontrada porque a sociedade foi marcada pela conhecida "Lei de Gerson" - onde é preciso levar vantagem em tudo. Certo? Errado, pois hoje tanto os profissionais quanto as empresas investem na relação ganha-ganha, onde os dois lados são beneficiados pelo comprometimento e a confiabilidade que cada um deposita no outro.
Para o espanhol José María Gasalla, idealizador do modelo Gestão por Confiança (GpC), doutor em Ciências Econômicas e Empresariais pela Universidade Autônoma de Madrid (UAM) e autor de diversos livros, entre eles , "Da confiança ao Compromisso", "A Nova Gestão de Pessoas - O Talento Executivo", e co-autor de "Confiança, o Diferencial do Líder" e "Confiança, a chave para o sucesso pessoal e empresarial", a confiança é desejada pois proporciona a sensação de segurança, traz paz de espírito, evita conflitos, elimina dúvidas, cria certezas, fortalece vínculos e faz com que as pessoas sentam-se respeitadas, protegidas e amadas.
Ao ser indagado ser a Gestão da Confiança está propensa a evolua no âmbito corporativo, Gasalla destaca que graças a 30 anos de experiência adquirida como consultor de empresas, observa que os relacionamentos passaram por transformações nos últimos anos. Ele, inclusive, compara o que acontece hoje nas empresas como o que já aconteceu no ambiente familiar, em que o relacionamento entre pais e filhos ficou mais próximo, com maior abertura para o diálogo e o questionamento. Nas organizações esse fato também começa a ocorrer entre líderes e colaboradores, embora em menor grau devido à eterna disputa pelo poder que as pessoas travam no meio corporativo.
O nascimento da confiança - José María Gasalla é enfático ao afirma que se os indivíduos quiserem, de fato, que a confiança ganhe raízes nas empresas, essa mudança deve ter início a partir de cada pessoa. "No nível organizacional, a criação de um ambiente de confiança demanda certo esforço para romper resistências e padrões de comportamento que estão firmemente arraigados nas corporações. No entanto, se os líderes empenharem-se seriamente nisso, preocupados em dar o exemplo e criar novos parâmetros de atitude, a confiança se irradiará para todos os níveis da organização", complementa.
Confiança interpessoal - Falar sobre a GpC sem enfatizar a confiança interpessoal seria o mesmo que tentar "tapar o sol com a peneira". Afinal, essa tem sido considerada como um aspecto crítico no funcionamento efetivo dos grupos e equipes. Por outro lado, não deve ser vista como uma característica de uma personalidade, mas sim como o produto de uma interação entre um indivíduo que confia e outro no qual se deposita a confiança. Esse fator, por exemplo, pode ser evidenciado no relacionamento entre líderes, liderados e colegas de trabalho. Dessa forma, existe em cada pessoa certa disposição para confiar, a partir das experiências primárias de intercâmbio adquiridas no convívio com outras pessoas. Existem, vale ressaltar, determinados comportamentos manifestados pelo outro lado, que fornecem o subsídio necessário para qualificá-lo como um indivíduo mais ou, então, menos merecedor de confiança.
Implantação da Gestão por Confiança - Um processo polêmico que envolve fatores comportamentais não ocorre de maneira natural e espontânea, mas sim precisa de uma atenção e um desejo de conhecer e compreender o outro, para saber se é digno de confiança e continuar o sendo. "Esse ser digno de confiança está no centro do processo de delegação, considerado um dos mais complexos, principalmente nas organizações tradicionais onde, por medo de perder o controle, era difícil delegar oportunidades aos subordinados em situações específicas", enfatiza José María Gasalla, ao acrescentar que a confiança não é algo que se possa pedir, muito menos exigir, ou seja, simplesmente ela é transmitida pelo indivíduo.
Segundo o idealizador da GpC, a natureza do trabalho muda numa velocidade acelerada nas organizações atuais. Nos últimos anos, a atividade corporativa tornou-se mais global, ocorreu uma mudança drástica na natureza da concorrência, tanto entre grandes empresas como entre médias e pequenas. Hoje, por exemplo, já não se trata de competir em nível local e nacional, mas, principalmente, em âmbito global. "Refletindo sobre muitas realidades empresarias verificamos que antes de avançar com modelos mais complexos, teríamos que dar um passo atrás. Ou seja, deveríamos procurar novas abordagens, mais simples e básicas, que pudessem enfrentar uma complexidade e incertezas crescentes. E a chave que propomos para colocar isso em pratica é Gestão por Confiança em dois níveis básicos: organizacional e individual. ", explica.
Sustentação da Gestão da Confiança - Um fato relevante é o de que a Gestão por Confiança é sustentada por variáveis individuais e organizacionais. Na prática, funciona como um modelo de Gestão por Competências que envolvem os 7Cs: clareza, consistência, coragem, cumprimento da palavra, coerência, consciência, e competência profissional. É importante lembrar que a implantação dessas variáveis comportamentais deve ser na prática e ao passo que as pessoas incorporam essas competências ao seu comportamento, com o passar do tempo é construído um espaço e um clima de confiança nas organizações. A partir daí, é possível conquistar um maior compromisso dos colaboradores e os resultados a surgir os resultados.
José María Gasalla cita que o controle sem confiança não é eficiente. "Para comprovar tal afirmação, basta que nos perguntemos: somos conscientes do custo que representa para nossa organização a existência de controles, que seriam evitáveis adotando certo nível de confiança? Ou ainda; sabemos que, por meio do aumento da confiança, também podem ser reduzidos os custos diretos e indiretos inerentes às transações, entre os quais aparecem custos de oportunidades? E não somente isso, o aumento do controle baseado na falta de confiança cria um espiral de difícil solução. Uma vez criada uma função - controle -, ela mesma trata de provocar sua necessidade e uma realidade se justificará", pontua.
Ele faz, ainda, um alerta que levantamentos sobre confiança nas organizações enfrentam alguns problemas que tornaram complicado seu estudo unificado. Entre eles cabe destacar a dificuldade de defini-las de maneira consensual, visto suas múltiplas possibilidades de abordagens: a falta de clareza das relações entre risco e confiança; a ausência de distinção entre os fatores que contribuem para a confiança; a confiança em si mesma; e seus resultados, devido à dificuldade de determinar a unidade de medida e seu nível de análise.
Por fim, ele pontua que essa dificuldade talvez ocorra, em parte, à natureza da própria confiança, uma vez que, ao ser algo intangível, é muito difícil de caracterizar em termos objetivos e sobre os quais exista um consenso universal. A importância da confiança nas organizações é mencionada em áreas como comunicação, liderança, gestão por objetivos, negociação, teoria dos jogos, avaliação do desempenho, relações de trabalho, implantação de equipes autogerenciadas, entre outros. "O estudo sobre confiança mostra evidências acumulativas das vantagens substâncias e variadas, de tipo individual e coletivo, para o bom funcionamento organizacional, entre eles, redução dos custos dentro das organizações e aumento de comportamentos de sociabilidade espontânea entre os membros da organização", conclui.

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