sábado, 30 de março de 2013

A lei do mais forte


Por Augusto F. Gaspar (*) - 10/02/2010

Algumas pessoas ficaram famosas pelo que não disseram. Darwin, por exemplo, nunca disse que o homem descende do macaco. Na verdade, ele disse que o homem e o macaco têm a mesma origem evolutiva, um ancestral comum que viveu há cerca de quatro milhões de anos. Darwin também não disse que quem sobrevive é o mais forte, e sim que quem sobrevive é aquele que melhor se adapta ao meio. Muitas vezes, quem melhor se adapta é o mais forte, mas nem sempre. O caso dos dinossauros ilustra bem isso: após dominarem o planeta por 160 milhões de anos, esses seres enormes foram destruídos em massa por uma mudança climática causada, em parte, segundo estudos recentes, pela queda de um asteroide na região onde hoje se situa Yucatán, no México. Os anos gelados que se seguiram deixaram os mais fortes sem condições de obter alimentos e, por outro lado, foi a chance de pequenas tartarugas, lagartos e outras espécies menores, como os primeiros mamíferos, sobreviverem. Existem outras teorias, mas todas explicam o desaparecimento dos dinossauros pela incapacidade de obter alimentos nas novas condições do planeta.

Enquanto a singularidade (**) se aproxima, notamos a cada dia em nosso ambiente de trabalho o crescimento da importância da adaptação ao meio, e utilizamos a tecnologia com maior grau de dependência e integração. O fato de muitos de nós se sentirem “nus” sem o celular é um sintoma dessa integração. Hoje são raríssimas as atividades profissionais que não interagem com qualquer tipo de máquina, e a interoperabilidade “homem–máquina” é justamente o que possibilita que o trabalho seja executado. Um exemplo claro está na aviação comercial, em que a perfeita integração do piloto com o avião é o que possibilita um voo seguro e sem maiores turbulências; já na aviação militar, a integração do piloto com todos os sistemas da aeronave é um fator crítico para a sobrevivência.

Com a evolução dessa integração, podemos contar com apoio tecnológico de altíssima qualidade e precisão em uma série de atividades profissionais, desde rotinas administrativas até funções altamente especializadas em medicina, segurança e transportes, só para citar alguns exemplos. Por outro lado, o nível requerido de capacitação do ser humano para se “integrar” ao ambiente tecnológico é cada vez mais alto.

Alguns autores preveem que, com a singularidade, teremos uma integração total às máquinas, e possivelmente a questão da capacitação será superada: em parte pela utilização dos recursos da máquina como se fosse uma extensão de nosso corpo, em parte pela possibilidade de adquirirmos conhecimentos e habilidades por meio de um upload direto para o nosso cérebro.

Mas enquanto esperamos a tecnologia chegar a esse ponto, continuaremos ainda por muito tempo com o desafio de desenvolver as pessoas nas organizações para que se integrem com perfeição às atividades e ao meio, e, é claro, aos colegas.

A chegada das gerações Y e Z ao mercado de trabalho muda esse cenário, e, no meu entender, para melhor. Podemos perceber a facilidade com que as crianças se adaptam às máquinas com as quais convivem, e justamente essa convivência precoce possibilita que, quando se tornarem jovens e chegarem ao mercado de trabalho, tenham habilidades e atitudes já bem desenvolvidas em relação à tecnologia, faltando apenas obter os conhecimentos específicos.

Será essa forma simples de as crianças encararem a tecnologia um sinal de uma evolução da humanidade rumo à integração total com as máquinas? Se retomarmos Darwin, podemos entender esse fato como uma questão de adaptabilidade ao meio, que resultará na evolução necessária à sobrevivência.


(**) Singularidade é um termo que define um evento previsto para o futuro, segundo o qual as máquinas alcançarão o nível de “inteligência” do ser humano. Alguns autores, como Ray Kurzweil, acreditam que haverá uma integração total entre o homem e a máquina, criando uma “raça” mais evoluída. Veja outro artigo meu sobre o tema em: http://www.elearningbrasil.com.br/home/artigos/artigos.asp?id=6587


(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar

Fonte: http://www.learning-performancebrasil.com.br/home/artigos/artigos.asp?id=6607

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