sexta-feira, 3 de abril de 2009

A tecnologia e o comportamento humano

Recursos Humanos
A tecnologia e o comportamento humano

Confira artigo que trata sobre o impacto do desenvolvimento tecnológico no comportamento das pessoas.

Recentemente um amigo meu, gestor de Recursos Humanos, disse que fará um curso sobre o “Gerenciamento de pessoas em ambiente de mudança”. Com isso, veio à minha cabeça a grande variedade de cursos e treinamentos sobre o tema. Isso porque a preocupação em adequar as pessoas a processos de mudança tem sido uma constante nos meios de gestão de RH.

Sabemos que o mundo está mundando cada vez mais rápido e é uma situação sem volta. Por isso, multiplicam-se as abordagens de adequação das pessoas à essa realidade. É oportuno portanto, lançarmos uma vista à perspectiva histórica para compreender melhor essa situação. O objetivo aqui, portanto, é discutir a relação entre as recentes mudanças no ambiente social e o perfil comportamental das pessoas.

Para analisar o perfil comportamental, usarei o conceito DISC, do prof. Willian M. Marston (Emotions of Normal People – 1928), por meio do qual ele propõe que as características comportamentais humanas podem ser descritas em quatro grandes grupos:

1 - Dominância: Características que descrevem a competitividade, a busca por resultados, a assertividade e a diretividade;

2 - Influência: Grupo de características relacionadas à empatia, verbalidade, persuação, amabilidade;

3 - Estabilidade: Características relacionadas com a previsibilidade, a necessidade de segurança e a boa adaptação à rotina;

4 - Conformidade: Grupo de características voltado ao perfeccionismo e a agregação a procedimentos e normas pré estabelecidas.

Todas as pessoas tem um pouco de cada um dos quatro grupos. A intensidade com que cada grupo aparece em um indivíduo define o seu tipo de perfil. Podemos representar isso graficamente do seguinte modo:

As pessoas usualmente tem todas essas características em sua personalidade, havendo a predominância de um grupo sobre os demais. Assim, um indivíduo pode apresentar um grupo de características que predomina sobre os outros. O balanço desses quatro grupos de características forma os diversos tipos de perfis que compõe a humanidade.

Apesar de não existirem estatísticas sobre o passado mais distante, pelas informações históricas podemos presumir que características do grupo de estabilidade e conformidade eram muito mais requisitadas do que hoje em dia, porque as mudanças ocorriam muito mais lentamente. No Império Romano, a formação das legiões e seu armamento, que era o que havia de melhor na Antiguidade, foi praticamente o mesmo durante séculos. Hoje, os armamentos caem em obsolescência em poucos anos e cada vez mais rápido, enquanto todas as outras áreas de tecnologia têm comportamento similar, o que significam mudanças cada vez mais drásticas e rápidas.

E como isso afeta as pessoas? Na Idade Média, as pessoas viviam em castas e herdavam a profissão de seus pais, repassando-as por sua vez a seus filhos. Cada mudança visível na sociedade demorava décadas ou mesmo séculos para aparecer. Com isso havia uma estagnação, uma rotina que passava de geração para geração, sempre a mesma coisa.

Mas estamos no presente e as coisas andam cada vez mais depressa. O que nossos pais foram não interfere nas nossas escolhas. Mais: podemos mesmo desfrutar de duas ou mais carreiras na vida. Peter Drucker disse que “...estamos vendo uma mudança sem precedentes na condição humana. Pela primeira vez há um substancial número de pessoas que tem escolhas. Pela primeira vez elas terão que gerenciar a elas mesmas. E deixe-me dizer, nós estamos totalmente despreparados para isso...”

Fora o aspecto de estarmos despreparados para gerenciar nossas carreiras (de fato estamos, mas isso está mudando em face de tecnologias de orientação profissional que começam a surgir no mercado), a verdade é que cada um pode ser literalmente o que quiser, o que tiver capacidade pessoal para ser, para alcançar e isso não tem mais nada a ver com a sua origem ou a ocupação de seus pais.

Entretanto, isso tem um preço. Alguém disse que é necessário um espaço mínimo de uma geração inteira (25 anos) para que uma grande mudança seja assimilada pela sociedade. Algo como “as crianças devem nascer e viver dentro da mudança implementada, pois o ambiente à sua volta irá influir na sua formação e adaptação”. Entre Freud e Yung, quem estará mais perto da verdade?

Acontece que o desenvolvimento tecnológico anda mais rápido que isso. As mudanças drásticas acontecem dentro de uma geração e temos que nos adaptar. A grande maioria das pessoas ainda se lembra de um tempo em que não havia Internet ou celulares. O quanto essas duas coisas mudaram nosso cotidiano, tornando-o muito mais agitado, acelerado mesmo? Ninguém se atreve a sequer imaginar como será o futuro próximo.

E as pessoas, como é que elas ficam? Seus perfis, suas atitudes ainda não se adaptaram a uma onda de mudanças e já vem outra, e outra, e assim por diante.

No passado havia muito espaço para pessoas com perfis predominantemente de alta Estabilidade e alta Conformidade, havendo pouco espaço para pessoas com alta Dominância e alta Influência, as quais, por sua vez, muito provavelmente eram minoria na população.

Hoje, ocorre o contrário. Cada vez mais são requisitados os perfis de alta Dominância e alta Influência, em detrimento dos outros dois, cuja necessidade diminuiu e vem diminuindo muito em função de aspectos relacionados à automação e à informatização de uma série de atividades na sociedade moderna.

A situação: não há, no plantel da humanidade, pessoas com esses perfis naturais, em número suficiente para suprir a demanda. É como se de repente o vôlei e o basquete passassem a ser o esporte absoluto, das multidões. A demanda por pessoas com mais de 1,95m de altura iria aumentar consideravelmente até bater em um problema: a imensa maioria dos indivíduos não chega nem perto disso.

Isso acarreta em um problema insolúvel? Não, mas cria uma nova frente de trabalho para os gestores de pessoas, para os profissionais de RH e para aqueles indivíduos que tiverem a iniciativa de tomar a si a responsabilidade sobri suas próprias carreiras. Trata-se do desenvolvimento das Competências Comportamentais, ou seja aquelas características que são necessárias para fazer face aos desafios das funções multitarefas, cada vez mais comuns.

Cada vez mais os profissionais de gestão de pessoas nas empresas terão que assumir o trabalho de ajudar a desenvolver o material humano que obtiverem. Felizmente é mais fácil ensinar um indivíduo a exteriorizar comportamentos de alta Dominância e Influência (mesmo que ele não seja assim naturalmente), do que fazer um indivíduo de 1,70 m exteriorizar saltos e pulos iguais aos de um de 1,95 m.

Todos nós devemos ter em mente que precisamos nos aperfeiçoar constantemente, porque as mudanças são cada vez mais rápidas e a capacidade de competição no mercado de trabalho está diretamente relacionada com nossa percepção do papel que cada um de nós deseja exercer nessa realidade. Esse é um processo que não tem fim.

Por Edson Rodriguez (consultor em Gestão de Pessoas e Orientação Profissional, coacher gerencial, autor dos livros “Conseguindo Resultados através de Pessoas”, “Futebol para Executivos” e “Porque alguns vendedores vendem mais que os outros?”. É sócio e Diretor da Your Life do Brasil(www.yourlife.com.br), empresa voltada à orientação profissional via Web, além de sócio e Vice Presidente da Thomas International – Brasil (www.thomasbrasil.com.br))
HSM Online - http://br.hsmglobal.com/notas/43829-a-tecnologia-e-o-comportamento-humano
02/04/2009

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