terça-feira, 29 de setembro de 2015

Inteligência para viver mais

Recentemente, especialistas fizeram uma descoberta surpreendente: quanto mais baixo o nível intelectual de uma pessoa, maior o risco de ela ter uma vida mais curta

por Ian Deary, Alexander Weiss e David Batty

Neste mundo pode-se dizer que nada é certo, exceto a morte e os impostos”, escreveu Benjamin Franklin. Embora muitos de nós sejamos claramente mais hábeis que outros em escapar do inevitável, no final a mãe natureza sempre acaba vencendo. Mas, ao longo da vida, a forma como as pessoas são prejudicadas (ou não) sofre grande variação. A genética e as oportunidades de vida (incluindo alimentação, condições de lazer etc.) explicam muito – mas não tudo. Se entendermos por que algumas pessoas vivem mais que outras, provavelmente conseguiremos reduzir essa disparidade. Quando cientistas descobriram estilos de vida e fatores biológicos que levam a uma vida mais longa e saudável, foi possível elaborar programas de intervenção para melhorar as perspectivas de saúde das populações.

Alguns hábitos, como fumar, são obviamente prejudiciais, mas de forma geral encontrar respostas não tem sido tarefa fácil. Isso porque cada um de nós começa sua jornada de vida em circunstâncias biológicas e ambientais únicas e depois prossegue colocando em prática numerosas opções, muitas das quais podem ter impacto direto sobre a saúde. Nenhum estudo, porém, é capaz de levar em conta todos os fatores – talvez nem mesmo analisar todas as pessoas do mundo seria suficiente para permitir investigações desse porte.

Recentemente, especialistas em psicologia, incluindo dois de nós (Weiss e Deary), têm se unido a epidemiologistas, como um de nós (Batty), em busca de pistas que possam prever quais aspectos de fato influenciam o bem-estar e as doenças e antecipam (ou retardam) a morte. Geralmente utilizamos séries históricas de estudos em saúde, que abrangem várias décadas. Nesses projetos, centenas, milhares ou às vezes até 1 milhão de pessoas são sistematicamente avaliadas e acompanhadas ao longo de vários anos. Analisando cuidadosamente esses dados, nós e outros pesquisadores descobrimos uma nova forma de prever a longevidade das pessoas: os escores obtidos em testes de inteligência quando jovens.

Os resultados são inequívocos, embora poucos profissionais da saúde os conheçam. Quanto mais baixo o nível de inteligência de uma pessoa, maior o risco de ela ter uma vida mais curta, desenvolver doenças físicas e mentais com o passar dos anos e morrer de patologias cardiovasculares, suicídio ou acidente. Obviamente não é possível fazer generalizações, mas é surpreendente que baixo nível de inteligência ofereça prognóstico tão forte de fatores de risco bem conhecidos para doenças e morte, como obesidade e hipertensão.

Com a descoberta dessa faceta inesperada da longevidade, nós e outros pesquisadores tentamos entender se fatores além da inteligência poderiam estar por trás dessas descobertas, como o nível socioeconômico, o grau de instrução e o tipo de atividade profissional exercida. Sabe-se, por exemplo, que pessoas menos instruídas em geral têm emprego pouco qualificado, exercem atividades manuais e recebem baixos salários; são mais suscetíveis a doenças e tendem a morrer mais cedo. Então seria fácil imaginar, por exemplo, que jovens inteligentes assimilam melhor o que lhes é ensinado, aprendem mais sobre saúde e por isso vivem mais. Porém, não é tão óbvio assim.

Estudos com gêmeos e voluntários com variados graus de parentesco mostraram que os genes desempenham papel importante na determinação do nível intelectual. Em pacientes com histórico familiar de doença cardiovascular, um baixo nível de inteligência pode servir de alerta para que seu coração seja monitorado regularmente. Se a pesquisa revela que pessoas menos privilegiadas intelectualmente têm menores oportunidades de receber avaliação adequada, de se sujeitar a medicação específica e de fazer exames de acompanhamento, esforços precisam ser realizados para envolvê-las nesse tipo de atividade. Como existem várias medidas de inteligência, profissionais da saúde e educadores deveriam ser capazes de intervir precocemente e ajudar os jovens a tomar mais decisões a favor de sua saúde. Também seria útil usar essa informação para preparar programas educativos.

Ensinar a crianças e adultos – independentemente de seu nível de inteligência – técnicas para manter um estilo de vida saudável, desenvolvendo bons hábitos alimentares e evitando agentes estressores, poderia diminuir os problema que se opõem à vida longa e ao bom funcionamento mental. No fim das contas, as descobertas dos epidemiologistas cognitivos encorajam o que todos já sabemos: manter comportamentos saudáveis desde cedo ajuda na proteção contra a devastação da idade.

Além disso, é preciso admitir: simplesmente ser inteligente pode não se configurar como o ingrediente mais importante da longevidade. Mas agir e decidir como pessoas inteligentes pode ser crucial.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/inteligencia_para_viver_mais.html

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