Envolver a equipe na tomada de decisões é fator-chave para fazer a criatividade aflorar na organização, diz consultora em criatividade
Fonte: http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=13045
Paulo Jebaili
Empresas conduzidas por líderes criativos têm um índice maior de inovação, engajamento de funcionários, mudança e renovação. Essa é uma crença de Linda Naiman, especialista em criatividade e inovação e fundadora da consultoria Creativity at Work, em Vancouver, no Canadá. Linda também é reconhecida pelo método de aprendizado baseado em artes, assunto tratado no livro Orchestrating collaboration at work using music, improvisation, storytelling, and other arts to improve teamwork [algo como Orquestrando a colaboração no trabalho usando música, improvisação, storytelling e outras artes para melhorar o trabalho em equipe], escrito em 2003, em parceria com Arthur B. VanGundy (ex-membro da consultoria, morto em 2009). Em entrevista por e-mail a MELHOR, a consultora dá uma série de dicas sobre como estimular em termos práticos a criatividade na organização.
MELHOR Quais as principais características de uma pessoa criativa?
Linda Naiman Criatividade exige imaginação e capacidade de traduzir novas ideias em realidade. Desse modo, é preciso também ter habilidades em lógica e planejamento. As pessoas criativas são capazes de gerar novas ideias; desafiar pressuposições e não encarar o status quo como a única coisa que está valendo. Elas assumem riscos, exploram ideias, mantêm alternativas abertas; estabelecem conexões entre elementos disparatados e enxergam novas relações entre pessoas, lugares e coisas. São capazes de refletir criticamente sobre ideias, ações e resultados; e de considerar possibilidades.
Pesquisas de diversos lugares do mundo apontam que as pessoas se consideram criativas, mas não utilizam esse potencial no trabalho. Por outro lado, as empresas precisam de gente criativa para se diferenciar da concorrência. Qual a razão desse descompasso?
Esse descompasso ocorre quando as organizações são refratárias a arriscar algo novo, quando evitam o caos e as incertezas, e quando as práticas de gestão sufocam a criatividade, porque não se encaixam em seu modo imperativo de controlar e preservar o status quo. Os matadores da criatividade incluem o micromanaging, instilando um clima de medo e de incerteza e ignorando as ideias criativas dos funcionários.
Como o aprendizado baseado em artes funciona? A senhora poderia nos dar um exemplo prático desse método e de seus resultados?
Eu uso arte como instrumento para teambuilding, treinamento em comunicação, desenvolvimento de lideranças, resolução de problemas e processos de inovação. E também utilizo a arte como um catalisador para diálogos estratégicos, e como um recurso para trazer à tona símbolos e metáforas de uma organização por meio de formas estéticas do saber. Tenho usado as artes - especificamente o pensamento visual e storytelling em planejamento estratégico. O vice-presidente de marketing de uma empresa de transportes internacional me apresentou o seguinte desafio: "Nós queremos assegurar que todos saibam onde a empresa está, que dificuldades enfrenta e qual o nosso plano para o futuro. Precisamos da participação de nossos funcionários, e eles precisam entender por que fazem parte do plano. Precisamos identificar os fatores-chave de sucesso para eles. Nós nos vemos como uma empresa que aproveita as oportunidades com apetite para o risco e para a inovação. Como podemos convencer cada um aqui disso?" Nós concebemos encontros de planejamento estratégico para assegurar o engajamento dos funcionários na cocriação do rumo futuro da empresa. Formamos pequenos grupos de diálogos e de storytelling e convidamos as pessoas para pintarem suas ideias. Usamos as imagens como catalisadores de questionamentos mais profundos, a fim de trazer as ideias para um foco mais definido e traçar uma estratégia.
E o que isso gerou?
Um dos resultados desse encontro foi um mural, que incorporava as imagens produzidas pelo grupo. Isso se transformou num mapa visual para a futura direção da empresa, o qual atendeu dois propósitos. As pessoas podiam literalmente ver o futuro, e isso elevou o moral entre os funcionários porque eles participaram de forma colaborativa. Também tivemos a promessa do presidente de implementar de imediato algumas daquelas ideias. A arte nos ensina a ver. Imagens comunicam de modo muito mais poderoso do que palavras e têm a sua própria linguagem. Elas são inerentemente ricas em metáforas e simbolismos. A informação visual nos ajuda a ver padrões, fazer conexões, pensar metaforicamente, decifrar complexidades, perceber cenários e criar visões compartilhadas entre pessoas diferentes em departamentos diferentes.
A criatividade parece ser um bom antídoto para períodos econômicos complicados. Mas, justamente nesses momentos, as empresas e as pessoas temem correr riscos e passam a operar numa espécie de "modo de segurança". Como mudar esse padrão?
Coloque o foco de sua criatividade em descobrir maneiras de aumentar o valor para o cliente. Descubra o que eles valorizam e o que desejam - amanhã, não ontem. Interaja e seja coinovador com o cliente em novos modos, usando canais diferentes, como a mídia social, por exemplo. Faça o mesmo com os funcionários. Pergunte à sua equipe: "Como poderemos reinventar as relações com os clientes? Como podemos engajá-los de novas maneiras para aumentar a lealdade para gerar novas demandas e fontes de receita?" O mundo de TI nos condicionou a operar no modo beta, então quando um novo software é apresentado raramente ele está perfeito, e os clientes não se importam, até porque existe um processo de feedback e melhorias. Podemos experimentar novos serviços, processos ou produtos desse jeito. Deixe o usuário final saber que se trata de um protótipo em beta. (Claro que se segurança for o principal ponto em questão, a inovação tem de ser perfeita.)
As pessoas, às vezes, apresentam ideias que não são aplicáveis no dia a dia. O que os líderes devem fazer para recusar a ideia sem desmotivar a pessoa?
Se a ideia não é aplicável no momento, os gestores e as equipes podem procurar o que há de bom nela e como ela pode ser melhorada. Para manter as pessoas motivadas é preciso seguir algumas orientações. Os gestores precisam aprender a gerenciar criatividade. Ajude os funcionários a evitar decepções e perda de tempo pedindo a eles que alinhem a criatividade com os objetivos estratégicos da companhia, e estabeleça critérios para desenvolver e avaliar ideias:
Como essa ideia beneficia (escrever o ponto)?
Como essa ideia melhora (escrever o ponto)?
Como essa ideia contribui para a lucratividade?
Como essa ideia nos ajudará a economizar?
O quanto essa ideia é aplicável em termos de recursos disponíveis (tempo, dinheiro, mercado etc.)?
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