segunda-feira, 23 de julho de 2012

GERAÇÃO Y: TEIMOSA NÃO, DIFERENTE!




Como absorver e lidar com essa mão de obra que nasceu na década de 1980, cenário de grande evolução tecnológica e prosperidade econômica, sem causar conflitos internos nas corporações por causa do choque de gerações?
Por Margareth Castro (Revista Mercado – ano 4, número 31- Julho de 2010)
“Não tenho metas para o futuro. É preciso viver o que está acontecendo agora e agregar valor para o futuro. As coisas acontecem naturalmente”. É assim que pensa e vive Fabrício Gimenes, 20 anos, que trabalha na área de planejamento de marketing de uma empresa de sistemas em Uberlândia.  Na cidade há seis meses, depois de já ter morado em outras 12, e há cinco meses na empresa, ele está em seu terceiro cargo.
A inquietude de Fabrício – que segundo ele começa com seis meses na mesma rotina – e a necessidade de se sentir desafiado são comportamentos típicos da geração Y – pessoas que nasceram na década de 1980, época de grande evolução tecnológica e prosperidade econômica. Essa é uma geração bem informada, questionadora, com autoestima elevada, acostumada a conseguir o que quer e com sede de subir na carreira.
Há cerca de 10 anos, quando alguns representantes dessa geração começaram a chegar ao mercado de trabalho, as empresas passaram a conviver com uma nova visão e muitos gestores chegaram a classificá-los como ansiosos, infiéis, indisciplinados e insubordinados. Após uma década de convívio, alguns mitos estão sendo desfeitos e certas verdades comprovadas. “A geração Y não é teimosa, é diferente”, é assim que o diretor executivo da Inthegra Recursos Humanos de Uberlândia, Nege Calil, traduz o comportamento dessa geração. Nege é também especialista em Psicologia Social.
Pesquisa da empresa de consultoria de gestão Hay Group – com 5.568 representantes deste grupo que trabalham em companhias de grande porte com atuação no Brasil – mostra que a ascensão profissional dessa geração tende a ser mais rápida, e que ela pode, em pouco tempo, vir a assumir postos ainda mais elevados. A pesquisa revela que quase 20% dos entrevistados ocupam cargos de gestão. E, ao contrário do que se pensava, estagiários e trainees correspondem a apenas 10% da amostra pesquisada.
Filipe Resende Versiani, 21 anos, é um exemplo desse perfil. Ele começou a trabalhar aos 18 anos como agente de viagem em uma operadora de turismo, onde permaneceu por um ano porque não conseguiu conciliar trabalho e faculdade. Em seguida, foi trabalhar com financiamento em um banco. Foram mais 12 meses. Há um ano e três meses é supervisor de televendas ativo em uma empresa de tecnologia e tem sob sua gestão 28 pessoas, todas mais velhas do que ele. “Não há problemas com diferença de idade. Demonstro responsabilidade, assumo minhas limitações, mostro interesse e transmito confiança. Tinha experiência em liderança, mas é uma questão de perfil”, diz.
Na empresa, passa por um treinamento de coaching (preparação de líderes) para alinhar pontos positivos e negativos. Segundo ele, o treinamento permite a elaboração de estratégias para diminuir os pontos negativos. “Procuro colocar em prática o que aprendo, porque meu objetivo é ser supervisor pleno e em até três anos chegar à gerência”, revela.
Os planos de Filipe comprovam outro dado da pesquisa da Hay Group. O levantamento mostra que 63% dos pesquisados pensam em permanecer no atual emprego por um período de cinco anos ou mais. Para 93%, quanto mais a empresa investe em desenvolvimento profissional, mais querem ficar.
Hierarquia
A imagem do chefe mandão, que só dá ordens e é inacessível, se ainda não acabou está com os dias contados. Com a chegada da geração Y ao mercado de trabalho, as empresas começaram a entender que as relações hierárquicas precisam se tornar mais horizontais. “As empresas precisam se organizar por rede e não por hierarquia”, explica Nege Calil, que é também MBA em Gestão Empresarial. Segundo ele, o comportamento do gestor tem que mudar em relação à nova mão de obra. O líder não pode dar ordens, precisa impor desafios. “Essa é uma geração que tem necessidade de ver resultados imediatos”, afirma.
Embora alguns líderes ainda não se sintam confortáveis com a maneira menos formal com que a geração Y lida com seus superiores, pela pesquisa da Hay Group 74% afirmam ter boa relação com a chefia, 75% confiam no seu superior e 35% alegam ter autonomia pra realizar seu trabalho. Como uma típica geração que faz o que fala, 71% dizem que os valores da empresa estão alinhados com os seus valores pessoais. “Minha relação com a minha supervisora, que tem 28 anos, é muito boa. É uma das pessoas que mais me incentiva a crescer dentro da empresa”, relata Filipe Versiani.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Uberlândia, Celso Vilela Guimarães, ressalta a importância de os gestores atentarem para as mudanças que ocorreram em suas corporações com a chegada da geração Y. Segundo ele, não tem como impor condições, essa geração precisa se sentir como parte, tem que estar envolvida no processo. “O que segura a geração Y no emprego é a sua participação. O cenário do colaborador mudou e as empresas têm muito o que ganhar com isso”, informa.
Desafio
Fabrício Gimenes trancou a faculdade de Comunicação Social em Vitória (ES) depois que veio passar férias em Uberlândia e conheceu, pelo twitter, a Wik Sistemas. E sentiu-se tentado a trabalhar nela. “A empresa tem uma imagem jovem, não tem o mesmo formato das demais. Aqui todos têm participação igual, há uma sala de ideias e todos dão sugestões sobre os projetos. Também não há rigidez de horário. Posso ficar aqui 12 horas só pelo prazer de estar fazendo o que gosto”, diz.
Para a consultora da Hay Group, Flávia Leão Fernandes, as empresas estão compreendendo os jovens e aprendendo a lidar com eles. “Os líderes enxergaram nessa geração um problema e começaram a buscar informações e a se tornaram mais abertos ao diálogo. E a geração, com sua capacidade de adaptação, foi entendendo melhor os ambientes corporativos e o que é esperado dela”, esclarece.
Com a carteira assinada pela primeira vez, mesmo começando a trabalhar aos 16 anos e aos 18 tendo sido dono de uma agência de publicidade, Fabrício Gimenes diz que a experiência na empresa é interessante e diferente. “A relação com os superiores é fácil, porque aqui valoriza-se o empreendedorismo. Há um acompanhamento individual dos funcionários”, conta.
Segundo ele, a relação de aproximação que a liderança mantém com os funcionários fez um dos sócios perceber sua inquietude em relação aos processos. Por isso, em 15 meses, Fabrício foi líder de produção, diretor de criação, e agora está no planejamento de marketing da empresa.
Conectividade
Essa geração cresceu em um mundo de tarefas múltiplas e, com isso, consegue fazer tudo ao mesmo tempo: assistir à TV, falar ao celular, conversar no MSN, ouvir música. Para Nege Calil, essa conectividade e o cenário de prosperidade econômica em que cresceu tornou-a exigente. “A geração Y é ávida por inovação e não se adapta a rotinas. Quer horários flexíveis de trabalho, qualidade de vida, e como líderes têm flexibilidade de delegação e não são ligados à burocracia”, afirma.
Ainda segundo Nege, a geração Y cria o seu caminho, não segue sequências. E a maioria dos empresários já percebeu que é importante mudar a maneira de conduzir os seus negócios e está tentando descobrir o “caminho das pedras” para administrar os conflitos internos que surgem com o choque de gerações. “A orientação é que esses líderes busquem treinamento e passem por um processo de coaching”, sinaliza.
Nesse processo de mudança da realidade empresarial, o gestor de Educação a Distância e Comunicação da Universidade Algar (Unialgar), José Geraldo Gomes, ressalta que os treinamentos corporativos ajudam a trabalhar os conflitos de geração, porque sempre são realizados com representantes de todas as empresas do grupo Algar, que por sua vez fazem parte de diferentes gerações. “Os treinamentos visam ao somatório das competências”, explica.
Celso Vilela, da CDL Uberlândia, diz que a geração Y está abrindo novos nichos de mercado que os gestores não estavam percebendo. Segundo ele, é preciso que os empresários vejam nessa geração a solução para o seu negócio, porque é a mão de obra existente no mercado.  “A cultura do negócio precisa ser inovada, é preciso ter um diálogo franco e oferecer treinamento continuado. As empresas e os seus gestores precisam se adequar ao perfil da geração Y, uma geração que quer experimentar fazendo”, diz.
O presidente da CDL diz ainda que se as empresas souberem acolher essa mão de obra disponível, terão um grande benefício. “As que não souberem estão fadadas a fecharem suas portas”, sentencia.
Case – Geração Y aprende com mais facilidade
Se o mercado de trabalho precisa se inovar para absorver a mão de obra da geração Y, por outro lado, as escolas regulares também precisam adaptar os métodos de ensino às características dos “jovens Y”. Como são pessoas que visam à conectividade, interatividade e imediatismo em todos os processos e relações, no aprendizado não se comportam de maneira diferente. Um exemplo disso pode ser encontrado dentro das escolas de idioma.
“A chegada da geração Y e o desenvolvimento das novas tecnologias influenciou o ensino de idiomas”, observa a diretora  do CCAA de Uberlândia, Raquel Paes Leme. Conforme explica, essa geração tem muito contato com a Internet, consequentemente, com o restante do mundo e outros idiomas. Para eles, comunicar-se em inglês já faz parte do dia a dia, uma vez que nas redes sociais, por exemplo, utilizam – e muito – o idioma.
Além disso, Raquel reconhece ainda que os jovens da geração Y têm mais facilidade na hora de conversar em outra língua, pois são mais desinibidos e, portanto, mais abertos a contato com estrangeiros. “O acesso a filmes, músicas, pessoas de outros países, via Internet, por exemplo, contribui muito para o jovem praticar o idioma que está aprendendo fora das aulas. E hoje isso é muito viável. A maioria desses jovens da geração Y faz parte de redes sociais e está em permanente contato com tudo o que acontece no mundo”, afirma.
No entanto, junto com a perspectiva de que aprender um idioma não é mais um bicho de sete cabeças, surge também uma preocupação: o uso de abreviações e gírias em conversas via meios eletrônicos pode afetar o aprendizado de uma nova língua, assim como acontece com a língua portuguesa. “A geração Y tem necessidade de se comunicar mais rapidamente e, por isso, utiliza muitas abreviações. Apesar de ajudar na conversação, não é a forma mais correta, por exemplo, para ser utilizada em entrevistas de emprego, em que se cobra o conhecimento correto tanto da gramática quanto da pronúncia da língua estrangeira. A fluência é, sim, importante para que a mensagem seja enviada, mas a comunicação deve ser eficiente também”, afirma a diretora.
Novo comportamento, novos métodos
Assim, o surgimento da geração Y e suas peculiaridades obrigou as escolas de idiomas a se adaptarem, partindo para métodos de ensino e aprendizagem menos tradicionais e conservadores. Na escola em que Raquel Paes Leme é diretora, por exemplo, foi fundamental propiciar aos alunos o contato constante com o computador e a internet, mais filmes e músicas. Entretanto, livros, apostilas e outros tipos de material que ajudam a praticar a pronúncia não foram aposentados. “Nós precisamos nos adaptar a essa nova geração para oferecer o ensino de outra língua da forma mais adequada, mas sempre levando em conta os princípios básicos de ensino. Eles precisam conhecer a forma correta das construções gramaticais, pronúncia e escrita das palavras”, observa Raquel.
COMPORTAMENTOS DA GERAÇÃO Y
VERDADESMITOS
▪ Têm pressa de subir na carreira▪ Apreciam o diálogo aberto▪ Escolhem onde querem trabalhar de acordo com os valores da empresa▪ Têm necessidade de feedback▪ Gostam e querem se sentir parte do processo▪ Gostam de desafios▪ Sabem lidar com erros▪ São infiéis, porque não têm estabilidade profissional▪ Não vale a pena investir em sua formação, porque sempre migram para a concorrência▪ São insubordinados e difíceis de liderar
Curiosidades da década de 1980 – período de nascimento da Geração Y:
1980
- Fim da Rede Tupi de Televisão
- A Sony japonesa lança o walkman, aparelho que permite ouvir música em qualquer lugar em que se esteja
- A inflação brasileira é de três dígitos, fechando o ano com índice de 110,24%
- É fundado o Partido dos Trabalhadores (PT)
- É fundada a primeira emissora de TV com notícias 24 horas por dia, a Cable News Network – CNN, rede de notícias por cabo, que torna o mundo pequeno
1981
- Entra em operação o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), do apresentador e empresário Silvio Santos
- É isolado o vírus da Aids, síndrome da imunodeficiência adquirida
- Os primeiros computadores laptop e os primeiros PC da IBM são comercializados. O mouse passa a ser acessório quase que universal
- Bill Gates, presidente e fundador da Microsoft, diz que 640 K de memória são suficientes para qualquer pessoa
- A Philips lança o videogame Odyssey no Brasil
1982
- Lançado no mercado o disco Thriller, de Michael Jackson, considerado o álbum que mais vendeu na indústria fonográfica
- Inicia-se a comercialização do programa de computadores AutoCAD
1983
- Maxidesvalorização do cruzeiro, moeda brasileira vigente na época
- Tomam posse os primeiros governadores eleitos por eleições diretas após o golpe militar de 1964 no Brasil
- Adolfo Bloch funda a rede Manchete de Televisão
- A Compaq lança o seu primeiro microcomputador, concebido com base em engenharia reversa
1984
- Surge no Brasil o movimento das Diretas Já, propondo eleição direta para presidente da República
- Tancredo Neves (PMDB) vence o candidato da situação do regime militar, Paulo Maluf (PDS – atual Partido Progressista), nas eleições indiretas e é eleito Presidente da República
- A Apple lança o computador Macintosh, que viria a revolucionar a história da computação
- Nasce o primeiro bebê de proveta brasileiro
- O PIB brasileiro cresce 5,4% no ano, mas a inflação é recorde: 223,9%
1985
- É criada a linguagem de programação Clipper
- Morre, antes de tomar posse, Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito em 20 anos. O vice, José Sarney, assume a presidência do Brasil
- Identificado um buraco na camada de ozônio
- Primeiras eleições diretas para as prefeituras das capitais, cidades litorâneas e municípios enquadrados na antiga Lei de Segurança Nacional
1986
- Explosão do ônibus espacial Challenger
- Aparição do cometa Halley
- É criado o Plano Cruzado, plano econômico que prevê congelamento e tabelamento de preços e salários. A moeda brasileira passa a se chamar cruzado
- Usina nuclear Chernobyl é assolada por um desastre com vazamento de radiação e consequências funestas
- São realizadas eleições diretas para o poder legislativo estadual, federal e governos estaduais do Brasil
1987
- A inflação brasileira está na casa dos 300% ao ano
- É instalada a 5ª  Assembleia Nacional Constituinte
- Acidente radioativo ocorre em Goiânia com vazamento de uma cápsula de césio 137
1988
- Início da formação do Mercosul por Brasil, Argentina e Uruguai
- Assembleia Constituinte aprova o mandato de cinco anos para José Sarney
- A nova Constituição brasileira é aprovada: é a 7ª da história
- Acontece o primeiro ataque de um vírus de computador
- Líder sindical seringalista Chico Mendes é assassinado a tiros em Xapuri, no Acre
1989
- Cai o muro de Berlim, apontando diretamente para o fim do comunismo na União Soviética
- A Igreja Universal do Reino de Deus compra a Rede Record de televisão por US$ 45 milhões
- Fernando Collor de Mello é eleito presidente do Brasil
- A reserva de mercado brasileira não permite importar qualquer artigo eletrônico, especialmente computadores, cuja produção e venda estão restritas a produtos nacionais, que são caros e de baixa potência
1990
- Nelson Mandela é libertado após 28 anos de prisão em função do Apartheid
- Fernando Collor de Mello assume como presidente e anuncia o Plano Collor, que dentre outras medidas, determina o confisco da poupança bancária dos brasileiros, a privatização, a modernização tecnológica e a abertura das importações
- Criado no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente
- Lançamento do videogame Super Nintendo
(Fonte: José Luiz Vieira – jornalista)
CONCEITOS
GERAÇÃO BABY BOOMERSPessoas entre 50 e 69 anos
GERAÇÃO Xentre 30 e 49 anos
GERAÇÃO Yde 18 a 29 anos
GERAÇÃO Zde 6 a 17 anos
Fonte: Link Comunicação Empresarial
Fonte: Revista Mercado (ano 4, número 31- Julho de 2010)
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Fonte: http://blog.inthegrath.com.br/?p=231

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